Fundo Rotativo Solidário melhora a renda familiar – A experiência do grupo de beneficiamento de frutas
Economia popular solidária
Comunidade Jenipapo – Jaguarí – Bahia
A 15 km de Jaguarari (BA) está localizada a comunidade de Jenipapo, onde moram 55 famílias de pequenos agricultores e agricultoras que plantam milho, feijão e mandioca, e criam algumas cabeças de gado. Plantam também muitas fruteiras de onde colhem manga, goiaba, maracujá do mato, jenipapo, acerola, banana, jaca, cajá e umbu.
A água de que dispõem para consumo humano, animal e produção, vem de uma pequena barragem que fica no pé da serra, mas agora serão beneficiados com água encanada para o consumo humano. A água virá de poços artesianos dentro do programa governamental Água para Todos. Para os animais e para os plantios continuam usando apenas a água da barragem. Receberam também o Programa Luz para Todos, do governo federal, e em 2003 fundaram a Associação de Pequenos Produtores Rurais de Jenipapo.
Todos os anos essas famílias viam metade de sua produção de frutas apodrecer debaixo das plantas e a outra metade era vendida para atravessadores que compravam pelo preço que bem queriam.
Em 2006, resolveram dar outro rumo para a produção. Um grupo interessado conseguiu a aprovação de um projeto cujos recursos são geridos coletivamente pelo Fundo Rotativo Solidário, que já existia na região. Além de Jenipapo, o Fundo apoiou as comunidades de Borda da Mata, incentivando o artesanato e a produção de mel, e Gameleira, no beneficiamento de frutas.
O projeto para o beneficiamento de frutas foi aprovado pelo Comitê Gestor Nacional de Apoio a Experiências Solidárias, composto pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Banco do Nordeste do Brasil (BNB), Cáritas, Pastoral da Criança e ASA Paraíba.
Para a elaboração do projeto, o grupo de Jenipapo contou com o apoio de organizações e movimentos sociais: Comissão Pastoral da Terra, da Diocese de Bonfim; Pólo dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais de Bonfim; CETA; Movimento de Pequenos Agricultores (MPA) e Associação de Fundo de Pasto.
O projeto de beneficiamento de fruta foi o incentivo necessário para a comunidade de Jenipapo implantar a unidade de produção de polpa de frutas. O grupo que participa do projeto é formado por 12 pessoas – 6 homens e 6 mulheres. Com o financiamento, o grupo conseguiu adequar a casa de um dos integrantes para o beneficiamento, comprar a despolpadeira, 4 frizeres, 1 máquina para lacrar as embalagens e outros instrumentos necessários para o desenvolvimento do trabalho.
Os produtores e produtoras beneficiam goiaba, manga, jenipapo, maracujá do mato e acerola. Essas frutas são cultivadas naturalmente, sem o uso de adubos químicos ou defensivos tóxicos. Compram as frutas das famílias que moram na comunidade e também de outras famílias de fora, quando necessitam.
A sobra da produção, sobretudo das frutas que não são beneficiadas, as famílias não vendem mais para atravessadores, mas levam para feira da cidade e vendem diretamente para os consumidores.
A produção de polpa é comercializada com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e usada na merenda escolar durante 10 meses do ano. É vendida também para hotéis em Jaguarari, além do consumo na própria comunidade.
O grupo tem um coordenador que convoca os participantes sempre que necessário para tomarem decisões relacionadas a oferta de frutas, produção e demanda por polpa – dependendo das negociações com a CONAB e com hotéis de Jaguarari.
Os participantes do grupo organizam a produção dependendo da quantidade a ser beneficiada. Podem todos trabalhar conjuntamente ou no revezamento organizado, onde cada um trabalha as horas estabelecidas. Após cada venda de polpa, descontam-se todos os gastos na produção, como luz, água e embalagens, e o lucro é dividido igualmente entre todos. Com isso, estão concretizando o objetivo inicial: melhorar o rendimento familiar.
As decisões de trabalho e também econômicas são tomadas em reuniões. Também vão iniciar a devolução dos recursos acordados para o Fundo Rotativo Solidário dos Movimentos Sociais da Região de Senhor do Bonfim. O valor devolvido será investido em outras comunidades.
A participação das mulheres é outro ponto de destaque no grupo. Elas estão sempre presentes nas reuniões, ajudando a tomar as decisões. Outros avanços são identificados pelos agricultores e agricultoras, como a melhoria na renda das famílias; o fato de não precisarem mais dos atravessadores; a melhoria no cardápio das escolas e também das famílias, com os sucos naturais; mais famílias querendo entrar no grupo e maior responsabilidade dos participantes.
Eles também identificam algumas limitações, que pretendem, aos poucos, resolver, como equipamentos insuficientes e inadequados para todas as frutas; um único produto, que é a polpa, quando há possibilidade de expandir para outros; e interesses diferentes entre os integrantes do grupo. Uma parte busca o crescimento do grupo voltado para a economia solidária, e outros têm apenas interesse econômico.
Para o futuro, o grupo quer expandir a produção para outras frutas: cajá, jaca, umbu e banana, mas ainda não dispõem de toda a infraestrutura para isso. Mas estão confiantes de que conseguirão, em breve, beneficiar todas as frutas produzidas pela comunidade, seja fazendo polpa ou doces.
O grupo que beneficia frutas em Jenipapo é composto por: Manoel (Mário) da Silva (coordenador do grupo), Maia Crispina Lima Silva, Antônio Rodrigues da Silva (que cedeu a casa onde é feito o beneficiamento), Vanuza Alves da Silva, Domingos Martins dos Santos, Luciene Leite da Silva, José Ramos Dias, Mariza dos Santos Dias, Misael Alves dos Santos, Lúcia da Silva Santos, Edivaldo Quintino da Silva e Efigênia Maria da Silva Santos.