Agricultores retomam suas terras

Acesso à Terra
Acampamento Nossa Terra – Ponto Novo – Bahia

O Acampamento Terra Nossa está localizado no município de Ponto Novo – Bahia. Mais precisamente às margens da BR 407, sentido Capim Grosso/Senhor do Bonfim/Juazeiro. Ocupa uma área de terra dentro do perímetro irrigado com 60 famílias.

No ano de 1998, foi construída uma barragem no rio Itapicuru com posterior implantação de um projeto de irrigação. As terras antes pertenciam aos pequenos agricultores, hoje “pertencem” aos empresários que exploram a mão-de-obra no município. Foi um projeto que acabou com o sossego e a vida digna dos camponeses que tinham sua propriedade e na terra de tudo um pouco produziam para se alimentarem, praticando a agricultura de subsistência, orgânica e diversificada. Desde então, os agricultores ou camponeses que tiveram suas terras inundadas permaneceram na expectativa de receberem lotes irrigados.

Nesta região, a construção de barragens é precedida da limpeza da área, isto é, da remoção, através de propaganda enganosa e de promessas de terras e de irrigação, de toda a população que será atingida. Isso aconteceu também em Ponto Novo. Só que as promessas feitas de assentamento não se concretizaram, e as terras foram loteadas com empresários que ali implantaram projetos de irrigação com a finalidade de produzirem para o mercado, sem se preocuparem com o alimento básico das famílias.

Em 11 de junho de 2008, a indignação dos camponeses que haviam perdido suas terras chegou no limite e, articulados com outros camponeses da região e com os movimentos sociais (MPA, CPT, CETA) , retomaram suas terras. São 60 famílias acampadas e todas almejam produzir ecologicamente e permanecer criando seus filhos, tendo educação contextualizada, de qualidade e pública, infraestrutura e tudo que uma família merece para gozar de uma vida simples, mas digna.

Produção de hortaliças para consumo das famílias e venda na feira

É um acampamento de resistência dos camponeses para permanecerem na terra e nela produzirem de tudo um pouco. Além da horticultura, cultivam feijão, milho, mandioca, melancia, abóbora, batata doce, dentre outros. As famílias acampadas estão buscando alternativas de convivência e sustentabilidade com a caatinga que ainda resta na região. Inclusive desenvolvendo projeto de horta comunitária agroecológica pelo Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), da CNBB, e ampliando a área agrícola nas terras ocupadas para a safra de inverno.

A produção interna das unidades familiares gera nas pessoas uma autoestima e identidade camponesa perdida ao longo do tempo. Representa também economia de recursos, alimentação diversificada, saudável e geração de excedente, que por muitas vezes é vendido na feira da cidade. O fortalecimento das relações de gênero, cooperação e solidariedade, têm grande importância para as famílias acampadas.

As famílias que reocuparam suas terras priorizam a afirmação da identidade camponesa, o fortalecimento da comunidade, a diversidade produtiva, o respeito pelo meio ambiente, a solidariedade entre campo e cidade, com o objetivo de produzir comida saudável para as famílias acampadas e para as famílias pobres da cidade, devolver a própria dignidade através do direito de ter terra para trabalhar e viver de forma sustentável no âmbito econômico, ecológico, social e cultural.

O acampamento tem hoje 60 famílias e desenvolve atividades coletivas e individuais que envolvem a participação de jovens, mulheres e homens, na produção e  na construção de suas moradias.

Casas de adobe preservam o meio ambiente

As moradias, dentro do acampamento, estão sendo levantadas em adobe – madeira e barro – preservando a maneira secular de construção no sertão.
As ameaças de expulsão são constantes. Os afortunados pelas políticas governamentais não querem ceder um filão de terra produtiva para os acampados que, simplesmente, retomaram suas terras perdidas quando da construção da barragem e, como agricultores familiares, produzem o alimento que vai para a mesa do brasileiro.

O direito à terra é o movente principal desta luta. Junto vem a preservação do modo campesino de viver, da cultura ancestral, da diversidade própria da agricultura familiar, do respeito pelo meio ambiente no modo de viver e de produzir, da solidariedade entre as famílias e destas com a cidade.