Marcha contra projeto na Chapada do Apodi reúne 2 mil pessoas no RN

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Famílias agricultoras mobilizadas repudiam projeto de irrigação | Foto: Tárzia Medeiros

O Dia do Agricultor e da Agricultora, que é lembrado e comemorado no dia 25 de julho, foi escolhido pelas organizações e movimentos sociais do Rio Grande do Norte para a realização de um grande ato público de protesto na cidade de Apodi. Cerca de duas mil pessoas, vindas de várias regiões do estado, organizaram uma marcha para protestar contra o Projeto do Perímetro Irrigado que o Governo Federal pretende instalar na Chapada do Apodi.

A atividade foi organizada pela ASA Potiguar, Sindicato de Agricultores e Agricultoras de Apodi e Fórum do Campo (Focampo) do Estado, que congrega entidades como a Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf),  Federação dos Trabalhores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (Fetarn), Movimento dos Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Assembleia Popular, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Rede de Advogados e Advogadas Populares (Renap), entre outras.

“Que desenvolvimento esse projeto vai trazer para Apodi? Por que expulsar as famílias das suas terras?”, diz o cartaz

Para os agricultores e agricultoras presentes no ato, assim como para os movimentos e entidades, existem dois grandes projetos hoje em dia para a agricultura: um deles é o projeto do grande capital, em que os bancos e o agronegócio são os beneficiados; o outro projeto é o da agricultura camponesa e familiar, que produz alimentos de qualidade e sem veneno, de forma descentralizada e sustentável, que já é desenvolvido por várias comunidades na Chapada do Apodi.

De acordo com Júnior, representante da CPT, o Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs) pretende entregar todas as terras da Chapada e toda a água da barragem de Santa Cruz para cinco grandes empresas do agronegócio e da fruticultura irrigada, exatamente como fez com as terras da Chapada do lado do Ceará, no Vale do Jaguaribe, e como está fazendo em várias regiões do país. “Hoje, estamos aqui para dizer NÃO a esse projeto.  Não podemos deixar que esse projeto da morte chegue a Apodi e não aceitamos que nenhuma família da Chapada do Apodi seja removida para dar lugar a essas grandes empresas”, disse Edilson Neto, presidente do STTR do município.

Uma das experiências mais conhecidas e bem sucedidas em Apodi é a produção de mel consorciada com o manejo da Caatinga, que faz com que o mel da região seja conhecido nacionalmente pela sua qualidade, o que traz renda para as famílias e ajuda a preservar o bioma. Um dos protagonistas dessa experiência é o agricultor e apicultor conhecido como Catraca, que vive na comunidade de Laje do Meio. Ele diz que as atividades desenvolvidas pela comunidade são incompatíveis com o projeto que o Doncs quer implantar, pois o veneno utilizado pelas grandes empresas do agronegócio que vão se instalar na região irá matar as abelhas e as espécies da Caatinga.

A coordenação estadual da ASA Potiguar foi representada por José Edson, que enfatizou a solidariedade às ricas experiências da agricultura camponesa já existentes em Apodi e que encontram-se ameaçadas pelo Perímetro Irrigado. Ele disse que a ASA não é contrária à chegada de água na Chapada, nem à geração de renda e de empregos, mas é contrária à forma como esses empregos serão gerados e como será utilizada a água e as terras caso o projeto do Dnocs seja viabilizado.

A ASA do Rio Grande do Norte e do Ceará, juntamente aos movimentos sociais e outras organizações da sociedade civil, conseguiram ter uma audiência com o Ministro da Integração na semana anterior ao Ato e, como resultado, houve o aceno, por parte do governo, para se rever o projeto.

No entanto, na opinião de Marina Santos, dirigente do MST, os governos são como feijão duro e só amolecem na pressão. Por esse motivo, ela diz que é preciso continuar fazendo luta e pressionando, de forma organizada e unificada, para não permitir que esse projeto da morte venha se apropriar dos recursos naturais para beneficiar as empresas e deixar, em troca, a poluição da água e da terra, a extinção da agricultura familiar e a miséria, pois não é esse modelo de desenvolvimento que se quer.

Para Kléber Folgado, dirigente do Movimento dos Pequenos Agricultores, a sigla do Dnocs deveria significar “Departamento Nacional de Organização do Crime contra a Sociedade”, já que considera um crime tirar as famílias de agricultores de suas terras para botar as grandes empresas em seu lugar, como se fosse uma reforma agrária às avessas.
 
De outras regiões – A ASA Potiguar também se fez presente através de representantes de várias organizações, assim como através de 34 agricultores e agricultoras que vieram das microrregiões do Mato Grande e Trairí para participar de um intercâmbio intermunicipal na região da Chapada. Além de terem trazido sua solidariedade à luta pela vida na Chapada, esses agricultores e agricultoras conheceram algumas das experiências bem sucedidas que existem na região, como o manejo da Caatinga consorciado com apicultura e fruticultura no assentamento de Laje do Meio, além de experiências de produção de hortas agroecológicas e beneficiamento do urucum feito por um grupo de mulheres, ambas no assentamento Nova Descoberta.

Para a agricultora Fátima, que vive no sítio Timbaúba dos Inocentes, município de Campo Redondo, e que veio participar do intercâmbio, as experiências conhecidas pelo grupo são muito ricas e não podem ser prejudicadas pelos interesses dos grandes. Por isso, ela diz que veio dar seu apoio aos agricultores de Apodi e levar os conhecimentos aprendidos.

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