Jataúba: uma só corrente
Os agricultores Alcides Lima (esq.) e Gerailton Martins. Foto: Arméle Dornelas |
Antes de chegar a Jataúba (PE), Alcides Lima, agricultor de Fagundes na Paraíba, já sabia: “Vou conhecer uma nova experiência, aprender coisas novas e passar para frente meus conhecimentos”. O paraibano e mais 15 agricultores e agricultoras de diferentes estados do Nordeste partiram do II Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores, na cidade de Pesqueira, em direção ao município de Jataúba. A troca de conhecimentos envolvia as atividades agrícolas desenvolvidas no sítio de José de Quitério, Zé, personagem importante na agroecologia de Pernambuco.
Depois de três horas de viagem e expectativas em torno da experiência, o grupo chega ao terreno e a troca de conhecimentos inicia-se. Os participantes conhecem o canteiro econômico de Zé de Quitério, que explica como é seu trabalho em cima da horta. As atitudes não prejudiciais ao meio ambiente e o aproveitamento da água para a irrigação da plantação foram os pontos abordados pelo trabalhador. Gerailton Martins, jovem agricultor, exalta sua satisfação em conhecer um canteiro nos mesmos moldes que o seu. “A plantação de hortaliça é parecida com a minha, mas ele faz de uma forma mais pratica e me ensinou muitos truques que eu não sabia. Eu ainda me surpreendi, pois também pude dar algumas dicas para ele”.
O grupo caracterizou-se pelos olhares atentos e perguntas contínuas. A curiosidade em cima de um trabalho tão parecido com o de todos estreitava os laços entre os agricultores, as agricultoras e Zé de Quitério, criando um clima de familiaridade e companheirismo. Cada um explanava como agia em cima dos mesmos procedimentos e a construção de um conhecimento coletivo era formado.
Nesse mesmo ritmo, foi apresentada a tecnologia mais aguardada por muitos dos visitantes: o biodigestor. O processo de geração de biogás encantou a todos e gerou mais discussões e esclarecimento das dúvidas. Para os presentes, o que foi presenciado não será esquecido e sim passado adiante.
Zé de Quitério entrou no clima que envolvia todos ali presentes e mostrou bastante entusiasmo ao passar para todos os seus conhecimentos. Sua hospitalidade, sua visão sustentável e sua sensibilidade diante o intercâmbio iniciavam o processo de despedida aos visitantes. Mais do que a troca de informações técnicas, houve a percepção das dificuldades que cada um passou e de como conseguiram superar.
A volta foi marcada pela satisfação e a vontade de crescer. Alcides relata sua surpresa com o trabalho de Zé: “Eu nunca tinha visto uma plantação como aquela, mas já esta tudo na minha cabeça e quando eu voltar para casa, vou aplicar e passar para os outros companheiros da comunidade”. O experiente agricultor ainda reforça a necessidade de se fortalecer essa corrente de conhecimentos, sua motivação se redobrou com o intercambio, assim como o de Gerailton, de Zé de Quitéria e de todos os outros agricultores experimentadores presentes. “É preciso formar uma só corrente’, afirma Gerailton.
Como agricultoras e agricultores experimentadores, os participantes não só trocaram experiências técnicas de trabalhos, mas também formaram uma visão construtiva diante sua importância e suas potencialidades para o trabalho rural e a convivência com o Semiárido. Jataúba se despede de um grupo que tem nas mãos e nas mentes toda concepção de desenvolvimento de uma agroecologia e a importância dela ser passada adiante.