Visitas às experiências reforçam fé dos agricultores na mudança
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Joelma (esquerda) mostra área para agricultores visitantes. Fotos: Verônica Pragana/ASACom |
“Ver para crer. Crer pra transformar-se. Transformar-se para conquistar dignidade vivendo no Semiárido.” Este lema traduz bem a atividade do segundo dia do II Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores do Semiárido. Mais de 300 pessoas – entre agricultores, técnicos das organizações sociais da ASA, representantes do governo federal e da imprensa – visitaram 12 experiências de convivência com o Semiárido nas regiões do Agreste e Sertão de Pernambuco.
As experiências são bastante diversas e abrangem desde a prática da agroecologia por famílias até a forma de organização do povo indígena Xukuru, natural de Pesqueira, município onde se realiza o encontro nacional.
Um grupo de 23 pessoas visitou a propriedade de Joelma e Roberto no município de Cumaru a 130 km de Pesqueira. Além de conhecer a área com diversas tecnologias de armazenamento de água e de trocar receitas de biodefensivos e biofertilizantes, eles também falavam palavras de apoio e solidariedade para os agricultores e agricultoras que estão começando a transição da agricultura convencional para a agroecológica.
A agricultura convencional usa agrotóxicos e fertilizantes químicos e pratica queimada e desmatamento. Ao passo que a agricultura agroecológica é baseada na Agroecologia, uma ciência que lança um olhar abrangente para todas as dimensões da relação homem e natureza – envolvendo a própria relação entre as pessoas. Como prática agrícola, a Agroecologia defende a utilização de técnicas de manejo da terra, água, vegetação, etc, que buscam recuperar a fertilidade do solo e a conservação dos recursos ambientais.
Na Agroecologia é estimulada também a transmissão de conhecimentos entre os agricultores. Ao testemunhar os resultados positivos alcançados em propriedades com qualidade do solo e quantidade de água disponível similares às suas condições, os agricultores e agricultoras ainda praticantes do plantio de sequeiro – que cultivam milho, feijão, fava só nos três a quatro meses de inverno – logo se vestem de coragem para transformar sua prática agrícola. Por isso, o “ver para crer”.
O “crer para transformar-se” é o próximo passo. Nas palavras sábias de um jovem agricultor visitante: “ninguém transforma o mundo, nem o país, nem a região, nem a cidade, nem a comunidade, nem a família, só se transforma. Mas, depois disso, as mudanças começam a alcançar os outros com os quais se convive.” Daí, o poder de transformação se amplia e pode provocar mudanças até então impossíveis. Por isso que o passo seguinte é transformar-se para conquistar uma vida digna no semiárido como agricultores familiares.
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“Toda terra é produtiva desde que o agricultor a faça produtiva”, diz Joelma por experiência própria. |
Segundo a anfitriã Joelma, os resultados trazidos com a Agroecologia são tão bons que a vontade é que todos os agricultores passem a adotar as técnicas e filosofia desta agricultura. Os diversos relatos estusiasmados sobre o sistema agroecológico funcionaram como uma verdadeira injeção de ânimo para a agricultora Júlia do semiárido de Alagoas. A propriedade de sua família recebeu uma cisterna-calçadão há cerca de dois anos. A partir de então, ela começou a cultivar fruteiras no quintal de casa, assim como uma pequena horta. Mas, o marido não acredita nas novas ideias que Júlia começa a por em prática e isto a desestimula.
Depois de expor suas apreensões, Júlia escutou dos companheiros de visita muitos depoimentos de superação da resistência apresentada pelas pessoas que não conhecem uma propriedade modificada pela agroecologia. Mas, como disse Joelma numa das primeiras frases de acolhimento do grupo de visitantes: “Toda a terra é produtiva desde que o agricultor a faça produtiva.”