Parceiros da ASA conhecem experiência de organização comunitária
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“Quando a gente sabe nossos direitos e cumpre nossos deveres tudo fica mais fácil”. Foi com este depoimento que a dona Maria José Ramalho, presidente da Associação Comunitária de Malhada Branca, recebeu os parceiros da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA Brasil) na visita realizada na manhã desta quarta-feira (27), realizada antes da abertura oficial do II Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido. A comunidade Malhada Branca tem uma trajetória de organização política que é referência na região e exemplifica a postura de autonomia comunitária que a ASA espera alcançar através das suas ações.
A comitiva foi formada por representantes do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) – Marco Dal Fabbro, diretor de Promoção da Alimentação Adequada, e Leonardo Vieira Nunes, coordenador geral de Acesso à Água –, de representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário – Thiago Vieira, do Programa Garantia Safra – e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Rogério Mewvald.
A Fundação Avina, parceira não-governamental da ASA, também estava representada por Telma Rocha. Naidison Quintela, Neílda Pereira e Cristina do Nascimento, coordenadores executivos da ASA, técnicos da Articulação e equipes de reportagem do portal O Eco e da TV Futura também estavam na visita.
Na fala de acolhimento do grupo que aconteceu na escola recém reformada pela comunidade, dona Maria Ramalho, falou sobre a contribuição da ASA para a ampliação da consciência cidadã das famílias agricultoras. “Com a chegada das cisternas (reservatório de água potável para consumo humano), as famílias começaram a participar de reuniões e a ver que era bom estar nestes espaços porque se aprendia. Além de acessar a água, conhecemos outros programas governamentais que podem nos ajudar não como favor, mas como direito nosso”, destaca ela.
“A partir da associação, as mulheres da comunidade que só sabiam cavar buraco, cortar mato e plantar feijão, agora também costuram bonecos, fazem enxoval e produzem mel”, acrescenta ela que hoje cursa Pedagogia e é uma grande entusiasta da volta à escola de todos os adultos da comunidade. “Me casei com 14 anos e abandonei o estudo. Voltei a estudar depois de anos e arrastei as mulheres casadas para estudar também. Depois, os maridos também buscaram conhecimento como cursos técnicos do Sebrae que foram oferecidos na comunidade”.
Protagonista de seu próprio destino, a comunidade já fez muitas parcerias, formou grupos de mulheres artesãs, grupo de apicultores, grupo de produtores de leite e está atenta a comercializar os seus produtos sem a dependência dos atravessadores e a criar soluções para manter o jovem na comunidade através de formação técnica.
Algumas famílias da comunidade conquistaram tecnologias de armazenamento de água para produção, como a cisterna-calçadão e a barragem subterrânea. A participação da comunidade em intercâmbios com outros agricultores fez o conhecimento se ampliar e a praticar técnicas de plantio que economiza a água, como o canteiro econômico que reduz de 50 litros por dia para 30 litros a quantidade de água usada para molhar um canteiro de hortaliças.
Apesar dos avanços, muito há o que conquistar. Um exemplo é um espaço para comercialização da produção que começa a ter sobra do consumo da família. “Não contamos com o apoio da prefeitura de Buíque”, queixa-se com energia de quem não se cansa de buscar melhorias para as famílias que estão junto com ela num grande elo de solidariedade. “Antigamente, éramos a mundiça do município. Hoje, somos vistos de outra forma aqui no município”, frisa ela com orgulho.
No agradecimento ao final da visita, Marco Dal Fabbro do MDS afirmou que a equipe governamental voltará para Brasília revitalizada por ver os resultados concretos da parceria entre o poder público e a sociedade civil.