Comunicação em rede no semiarido baiano

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Desde sua estruturação em 2005, o Programa de Comunicação do MOC – Movimento de Organização Comunitária – desenvolve uma comunicação em Rede junto à entidades regionais dos Territórios do Sisal e Bacia do Jacuípe. A atuação do Programa de Comunicação se dá em três áreas estratégicas: a assessoria e qualificação da imprensa na cobertura de temas relacionados ao desenvolvimento sustentável do semiárido, incluíndo-se aí a comunicação institucional da entidade; o fortalecimento da comunicação comunitária nos Territórios Rurais do Sisal e Bacia do Jacuípe através do fortalecimento das rádios comunitárias e de jovens comunicadores; e a Educomunicação que por um lado visa possibilitar e qualificar a participação de crianças e adolescentes nos meios de comunicação e por outro estimular a leitura crítica da mídia nos espaços de educação pública.

Comunicação comunitária – No campo da comunicação comunitária, a estratégia de trabalhar em Rede tornou o MOC uma referência no debate de Democratização da Comunicação. Desde a sua formação, o Programa de Comunicação optou pela capacitação técnica e política de comunicadores comunitários, assegurando maior qualidade nas produções jornalísticas e no debate político voltado para o fortalecimento da comunicação comunitária. Esse trabalho resultou no surgimento de duas importantes entidades de comunicação no Território do Sisal, a Associação de Rádios e Tvs Comunitárias do Território (Abraço Sisal) e a Agência Mandacaru de Comunicação e Cultura.

A Abraço Sisal, entidade representativa de 19 rádios comunitárias continua em parceria com o MOC investindo na formação dos comunicadores e diretores das emissoras comunitárias. Atualmente 11 rádios já possuem outorga e vem desenvolvendo um trabalho diferenciado nas comunidades, valorizando os sujeitos e pautando temas voltados para o desenvolvimento local. A entidade têm ocupado espaços importantes, estabelecendo diálogo com o Governo do Estado na proposição de políticas públicas de comunicação. Atualmente a entidade enfrenta desafios no campo da sustentabilidade financeira, neste contexto o MOC se insere na assessoria ajudando na sua estruturação e buscando formas de superação.

Criada em 2005, a Agência Mandacaru é gerida por jovens oriundos do movimento social que buscam na comunicação uma forma de sustentabilidade e permanência no semiárido. A entidade é parceria do MOC na produção de peças de comunicação e presta serviços de assessoria a outras entidades da região, tendo como público prioritário as entidades do movimento social. “A Agência surge com o objetivo de contribuir com a visibilidade do semiárido, sobre tudo das entidades que possuem poucos recursos – financeiros e humanos – para desenvolver a comunicação”. Camila Oliveira, Presidente da Agência Mandacaru.

A partir desse trabalho realizado em Rede, algumas entidades regionais vêem a comunicação como uma estratégia de mobilização social e captação de recursos. Um exemplo concreto é o trabalho realizado entre MOC e Agência Mandacaru junto aos Conselhos Territoriais de Desenvolvimento (Codes Sisal e Bacia do Jacuípe), Rede de Produtoras da Bahia e Agência Regional de Comercialização. Em todas essas entidades, o MOC capacitou diretores para pensar e desenvolver a comunicação institucional e territorial, sempre em parceria com a Abraço Sisal e a Agência Mandacaru que continua prestando serviços na produção de peças de comunicação dessas entidades. “Depois de muito esforço e inúmeros desafios, hoje o Codes Sisal compreende a comunicação como um elemento prioritário no debate do desenvolvimento do território, assegurando inclusive recursos próprios para essa ação”. Gilca Carneiro, Presidente do Codes Sisal.

Todo esse esforço convergiu na criação do Comitê Regional de Democratização da Comunicação, espaço estratégico que reúne todas essas entidades para pensar e monitorar políticas públicas de comunicação para o território, através do Plano Territorial de Comunicação que trouxe como resultado o curso de Comunicação Social para a Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em Conceição do Coité. A participação da UNEB no Comitê vem garantindo maior aproximação entre a comunidade acadêmica e a realidade do território, resultando em projetos de pesquisa, cursos de extensão que beneficiam não somente os estudantes, mas também os comunicadores comunitários que integram a Abraço Sisal e Agência Mandacaru.

Educomunicação no Sertão da Bahia – Outra forma que o MOC encontrou para apoiar o protagonismo das populações do semiárido na comunicação social foi a educomunicação, entendida como um processo de formação de leitores ativos e críticos da mídia e, ao mesmo tempo, de produtores dos seus próprios meios de comunicação, focados nas necessidades e anseios de suas comunidades. O trabalho realizado em parceria com as Secretarias municipais de Educação foi iniciado em 2006 com os municípios de Conceição do Coité, Retirolândia e Valente investindo na formação de educadores do campo, estimulando a produção de peças de comunicação em sala de aula.

A partir dos resultados alcançados com a metodologia de educomunicação, o trabalho hoje é desenvolvido em mais 07 municípios, atingindo uma dimensão de política pública no ensino das escolas do campo. Além das Secretarias de Educação o trabalho é desenvolvido em parceria com a Abraço Sisal, Agência Mandacaru e jovens comunicadores que juntos têm o papel de mobilizar as comunidades na identificação de pautas que são transformadas em boletins impressos, jornais murais e programas de rádio produzidos por crianças e adolescentes nas salas de aula. “O professor tem que está sempre buscando novas experiências para que a metodologia seja agradável para o aluno, para o professor e que ela possa contribuir no processo de aprendizagem. A mudança é difícil, mas, é possível. Estou mudando a minha visão em relação à comunicação e educação”. Maria Consuelo, educadora da Escola Carlos de Freitas Mota Júnior, no povoado de Murici em Serrinha.

Todas as ações desenvolvidas pelo MOC prioriza a ação em Rede entendendo que todo sujeito é capaz de construir conhecimento e tornar-se protagonista de sua história. As ações de comunicação tem proporcionado voz e vez a jovens, educadores, crianças e adolescentes que agora compreendem a comunicação como direito humano e estamos conseguindo exercer esse direito, criando seus próprios meios de comunicação e valorizando as comunidades onde vivem, em uma região onde o acesso aos meios de comunicação é restrito.

Divulgando um Sertão que dá certo – Na linha da assessoria de imprensa, o Programa de Comunicação desenvolve uma série de produtos e serviços de comunicação capazes de criar um fluxo contínuo de notícias e informações a partir do e sobre o semiárido. O objetivo é mudar o senso comum que encara o sertão como uma terra sem dinâmica ou fatos noticiáveis, pautado tão somente pela pobreza, pelas secas cíclicas, o abuso de poder dos coronéis, a migração para as cidades grandes, a incapacidade de ter em mãos seu próprio destino, além de outras mazelas. Uma importante ferramenta para criar esse fluxo contínuo é o Boletim Informativo MOC, um Newsletter eletrônico que chega semanalmente a mais de 2000 destinatários, principalmente jornalistas e outros formadores de opinião. Outra ação é a produção de sugestões de pauta sobre experiências bem sucedidas de convivência com o semiárido e desenvolvimento sustentável.

O resultado de toda essa ação pode ser medido pela quantidade de clippings sobre as ações do MOC e dos sujeitos envolvidos nos processos. Outro resultado importante no campo da assessoria é a referência que a entidade se tornou na abordagem de temas voltados para a convivência com o semiárido. “As ações desenvolvidas estão garantindo maior qualidade na cobertura jornalística, possibilitando aos sujeitos do semiárido contar suas histórias. O trabalho da assessoria de comunicação do MOC garante inserções na mídia de forma espontânea, sem ter gastos com publicidade e propaganda.” Naidison Baptista, Secretário Executivo do MOC.

Apesar desses resultados, o MOC se depara com alguns desafios como a distância – tanto geográfica como de concepção – que o separa da realidade vivida pela grande maioria dos jornalistas que atuam nos contextos urbanos das grandes capitais. Outro desafio diz respeito às questões políticas. Em anos eleitorais a inserção destes temas é menor e a entidade acaba se tornando alvo de denuncias infundadas. Se for um lado há perseguição, por outro, percebeu-se o respeito dos profissionais de imprensa, sobre tudo na região de Feira de Santana e Salvador que não levaram adiante as denuncias.

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