O grito pela vida com dignidade em Iracema no Ceará
No dia da comemoração da independência do Brasil, comunidades, grupos e movimentos foram às ruas reivindicar seus direitos. São José, Boa Esperança, Lapa e demais comunidades atingidas pela barragem do Figueiredo lutam pelo direito à terra e moradia com dignidade.
Dia 7 de setembro. Quem não recorda esta data? Por ser considerado o dia da conquista da soberania, muitas comemorações acontecem, entre elas: desfiles dos militares e desfiles das escolas. Foi em meio a estas comemorações, que as comunidades de Iracema, com distância de 282 quilômetros de Fortaleza e Potiretama, 279 quilômetros da capital, saíram pelas ruas da cidade de Iracema, gritando pelo direito à vida com dignidade.
As famílias destes municípios, como tantas outras famílias de outros municípios do baixo e médio Jaguaribe, no Ceará, enfrentam atualmente o desafio de ter que sair de suas terras para dar lugar à construção da barragem do Figueiredo.
A barragem do Figueiredo vai acumular 519,6 milhões de metros cúbicos de água em uma área de 4.985hectares, com extensão total de 2.947 metros, com largura pelo coroamento de 8 metros e altura máxima de 43,5 metros. De acordo com o decreto, serão desapropriados 9.631hectares de terras localizadas nos municípios de Alto Santo, Iracema e Potiretama. O projeto prevê o reassentamento das famílias a serem desalojadas, o abastecimento d’água e a irrigação.
No entanto, as famílias alegam que se passaram dois anos e meio desde que começou a construção da barragem e até agora nenhum acordo foi feito com o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Estas famílias, que não têm para onde ir, pedem respostas. A luta atualmente é pela indenização de todas as famílias atingidas; aplicação da política de reassentamento para as famílias que vão receber até 20 mil reais de indenização; pagamento dos laudos das indenizações e apresentação dos laudos que ainda faltam; garantia de que todas as famílias terão acesso à água da barragem para produção e consumo humano e animal; implantação de projetos irrigados sustentáveis, entre outros direitos.
A manifestação que aconteceu durante a manhã do dia 7, com faixas, panfletos, músicas e apresentações, representa a indignação das comunidades, igrejas e movimentos, diante do descaso com as famílias que sempre moraram naquela localidade. “Nós estamos sofrendo mais com o Dnocs do que com as secas que aconteceram nos anos oitenta. O Dnocs traz água, mas miséria também, trás emprego, mas também traz desemprego”, desabafa seu Manoel Pinheiro, da comunidade Lapa, se referindo às consequências que a obra trouxe para as pessoas.
Mas, as reivindicações continuam. Os moradores das comunidades atingidas estão acampados no canteiro de obra do Figueiredo, desde o último dia 25. Além das famílias, estão presentes também movimentos sociais como: a Cáritas Regional de Limoeiro, Diocese de Limoeiro, Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Ceará (Fetraece), Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Organização Barreira Amigos Solidários (Obas), Sindicatos, entre outros.