Pesquisa incentiva a preservação de variedades de milho na Paraíba
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Como forma de preservar o patrimônio genético das “sementes da paixão” e diminuir os riscos de contaminação das variedades tradicionais de milho cultivadas pelas famílias agricultoras da Paraíba, começa a ser implantado, neste mês de fevereiro, uma pesquisa participativa para avaliação e seleção de variedades tradicionais (crioulas) de milho junto aos agricultores familiares do estado.
Na fase inicial da pesquisa, que tem por objetivo qualificar a produção, seleção e armazenamento das sementes crioulas nos Bancos de Sementes Comunitários, será realizado um trabalho de resgate das sementes tradicionais de milho. Com essas sementes, serão realizados seis ensaios de competição de variedades nas regiões do Agreste, Cariri e Sertão da Paraíba para avaliar desempenho produtivo e suas qualidades agronômicas. Por fim, elas serão comparadas com as sementes de variedades selecionadas por empresas comerciais e de pesquisa.
Essa iniciativa é de enorme relevância numa conjuntura onde os riscos de contaminação e de erosão genética aumentam, seja pela liberação de variedades comerciais de milho transgênico, seja pela distribuição em grande escala pelos programas governamentais de poucas variedades de milho. O cuidado aumenta ainda mais porque o milho AG1051, mais cultivado na região, já possui um equivalente transgênico.
A meta desse trabalho é construir um quadro com a caracterização da agrobiodiversidade na região, promover a melhoria da qualidade da semente produzida e armazenada nos bancos de sementes comunitários e a conseqüente melhoria do desempenho dos cultivos; bem como identificar e avaliar pelo menos 20 variedades de milho mais adaptadas aos diferentes ambientes de produção; garantindo às famílias agricultoras acesso a sementes de qualidade.
Para Paula Almeida, assessora técnica da AS-PTA e integrante da pesquisa, é importante reforçar e demonstrar a superioridade das variedades crioulas de milho na agricultura familiar no Estado da Paraíba,como forma de garantir que essas sementes não sejam perdidas ao se misturarem com outras variedades.
A preocupação em garantir que esse patrimônio genético seja conservado é pertinente e se alia ao fato de que, desde 1995, no Brasil, com a criação da Comissão Técnica Nacional de Biosegurança (CTNBio), após a aprovação de Lei de Biosegurança, foram plantados em diversas partes do país campos de experimentação de milho transgênicos, em especial, nas regiões do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
Para ser ter uma ideia do crescimento dos plantios de transgênicos no Brasil, somente no ano de 2008, seis variedades de milho transgênico foram liberadas para serem plantadas e comercializadas. Destas, duas são da multinacional Monsanto, duas da Syngenta, uma da Bayer e uma da Dupont e Dow.
No Brasil, de acordo com o zoneamento realizado pela Embrapa em áreas agrícolas nordestinas, no período das safras de 2008/2009, dos 363 cultivares cadastrados, 324 são híbridos, ou seja, são desenvolvidos a partir da mistura genética entre variedades, perdendo a garantia que essas variedades sejam preservadas e que seu patrimônio genético não seja perdido ao longo de várias alterações.
A pesquisa terá duração de dois anos e se originou da mobilização da ASA Paraíba. As preocupações com a manutenção do patrimônio se traduziram numa parceria entre entidades que compõem a ASA: Pólo da Borborema, AS-PTA, Coletivo Cariri, Seridó e Curimataú, PATAC, Universidade Federal da Paraíba – Campus Bananeiras, Universidade Estadual da Paraíba e a Embrapa Tabuleiros Costeiros de Sergipe. O projeto conta com o financiamento do CNPq.