Sementes crioulas: patrimônio da humanidade
Agricultores e agricultoras que produzem campos de sementes crioulas em Porteirinha, Minas Gerais, reuniram-se com pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa e Agropecuária (Embrapa) e do Departamento de Antropologia da Universidade de Campinas (Unicamp) para trocar experiências sobre essas sementes. A reunião aconteceu no último dia 10, na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Porteirinha.
São chamadas de crioulas, todas as sementes nativas cultivadas na região há muitos anos, sendo passada para as famílias através das gerações. “À medida que os grãos são selecionados, com o passar do tempo, a variedade vai melhorando, se adaptando naturalmente ao clima, região e tipo de solo”, explica Elton Barbosa, coordenador do STR.
Os pesquisadores vieram para a região porque também acreditam na valorização das sementes crioulas como importante estratégia para agricultura familiar. O objetivo era, além de conhecer a realidade local, dar continuidade à construção do Projeto de Conservação da Agrobiodiversidade junto aos povos tradicionais do Norte de Minas, apresentando propostas e ouvindo sugestões.
O Projeto pretende, através da metodologia participativa, identificar famílias agricultoras e povos tradicionais na região, contribuindo para a articulação entre eles e incentivando a criação de bancos de sementes crioulas, a conscientização, o protagonismo e a valorização da sabedoria e cultura popular.
O assessor da presidência da Embrapa em Agricultura Familiar, Nicolau Schaun, também esteve presente. Com mais de 30 anos de trabalho na pesquisa e em defesa da agricultura familiar, ele falou sobre a importância das sementes crioulas, o valor do conhecimento dos agricultores e sobre as ameaças contra a agricultura familiar e biodiversidade, como as sementes e insumos comerciais.
Para o agricultor e também diretor do STR, Nilton César de Oliveira é importante a chegada de projetos que venham fortalecer a agricultura familiar. “É preciso que a agricultura familiar saia da dependência econômica e comercial, para assim que a chuva bater na terra, as famílias tenham sementes selecionadas adaptadas à região”, complementou.
Depois da reunião, os pesquisadores seguiram para a propriedade de Geraldo Gomes, agricultor e guardião de sementes crioulas na comunidade Touro, município de Serranópolis de Minas. Geraldo possui o maior banco de sementes da região, onde armazena mais de 200 variedades, entre elas 46 de feijão e 17 de milho.
Organização do trabalho
Há 17 anos o Sindicato dos Trabalhadores Rurais – STR de Porteirinha desenvolve projetos de resgate de variedades de sementes crioulas com acompanhamento técnico e social nos bancos e campos produtores de sementes. Nas últimas duas safras, chegaram a ser distribuídas cerca de 50 toneladas de sementes de milho e sorgo de sete variedades, através do processo de compra e doação simultânea.
Além de contribuir para a biodiversidade, a semente crioula garante a<