Representante da ASA diz que modelo de desenvolvimento do Semi-Árido é a raiz da desigualdade social na região
+Primeiramente, eu fico feliz pelo esclarecimento dado pelo deputado Ciro [Gomes, do PSB – CE], de que esse projeto [a transposição do São Francisco ] não foi concebido para atender a população difusa+, foi com essa frase que Luciano Marçal, engenheiro agrônomo e representante da Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), na audiência pública sobre a transposição, realizada ontem (14), em Brasília (DF), iniciou seu discurso. Para ele, essa informação, assumida pelo deputado federal Ciro Gomes na mesma audiência, é importante para trazer o debate ao centro da questão, afinal é essa população, que representa cerca de 10 dos 21 milhões de habitantes do Semi-Árido, que sofre com a seca e com a falta de água e alimento e que, portanto, deveria ser a mais beneficiada pelo projeto.
Segundo Luciano Marçal, a desigualdade social marca a história de desenvolvimento implementando na região, assentada num modelo de grandes obras de concentração de terra e de água, a exemplo do projeto de transposição do rio São Francisco, que muitos especialistas consideram como a obra faraônica da indústria da seca. +As ofertas concentradas de água, como um canal linear, que é o canal da transposição do São Francisco, nunca vão atender às demandas difusas e sim às cidades de grande porte ou os grandes projetos concentrados de irrigação intensiva+.
Para o agrônomo, pensar um processo de desenvolvimento para a população difusa significa necessariamente pensar em soluções descentralizadas, que levem em consideração as potencialidades naturais da região a e capacidade criativa do seu povo. E para isso, é preciso construir um outro modelo de desenvolvimento para o Semi-Árido, que já vem sendo vivenciado pela sociedade civil através de suas experiências de convivência com a região.
+Essa perspectiva de desenvolvimento, que a gente já vem discutindo, já tem uma série de experiências desenvolvidas, seja por alguns municípios, alguns estados, pelo próprio governo, que tem apoiado um programa de cisternas, e pela própria sociedade, que vem se mobilizando, como a Articulação no Semi-Árido+, disse o representante da ASA.
O bispo da Barra (BA), Dom Luiz Cappio, um dos grandes lideres da luta pela defesa do São Francisco, que chegou, inclusive, a fazer greve de fome duas vezes contra o projeto de transposição, disse que a audiência era um grande espaço de exercício da cidadania e lamentou que ela tenha ocorrido após as obras terem começado.
+Foi exatamente isto que nós pedimos ao senhor presidente da República por ocasião do encerramento do nosso primeiro jejum. Aquele acordo que foi feito entre nós, sociedade civil, e a Presidência da R epublica, representada na época pelo ministro Jacques Wagner, de se abrir um amplo e profundo diálogo antes do inicio das obras+, disse Dom Luiz.
A atriz Letícia Sabattela, da ONG Humanos Direitos, que também é contra a transposição, lamentou que a discussão em torno desse projeto tenha ocorrido tardiamente e