O Semiárido onde brota a vida e as vozes de luta e resistência
A organização MOC, de Feira de Santana (BA), desenvolve uma ação de educomunicação com crianças da região Sisaleira | Foto: Manuela Cavadas / Arquivo MOC |
A grande mídia de massa ainda enxerga o Semiárido Brasileiro como um lugar pobre, seco, miserável, onde não há oportunidades e onde seu povo é um povo triste, sofrido e incapaz. A imagem do Semiárido muitas vezes é associada à falta de água, animais mortos, chão rachado e a terra seca, onde nada consegue brotar. Nem alimento, nem sequer um pingo de alegria.
Mas essa imagem, veiculada por boa parte dos veículos de comunicação do país, não é a verdade. O Semiárido não é o lugar da morte e nem do sofrimento. O Semiárido atual é o lugar onde brota a vida e a alegria. Onde brota a água, brotam as diversas sementes, a cultura e os saberes de sua gente.
Por muito tempo, as pessoas do Semiárido tiveram seus direitos negligenciados. Mas, graças à força, a luta e a resistência desse povo, essa realidade vem mudando e o acesso aos direitos está acontecendo para todos e todas. É o direito à água de qualidade, que acontece através das cisternas de placas. O direito à água para produzir alimentos com a chegada das tecnologias sociais que armazenam água para o plantio. O direito ao crédito com a implantação de cooperativas e grupos de produtivos. O direito à educação contextualizada com a implementação de políticas públicas para a educação do campo. Entre tantos outros direitos que acontecem como: saúde, alimentação e documentação.
É certo que há muito ainda a ser feito na região para que todos os direitos sejam acessados por todos e todas. Há direitos que são totalmente esquecidos ou nem sequer são identificados como direitos. O direito à comunicação é um deles. Boa parte do fluxo de informações que chega à região semiárida brasileira é característico das regiões Sul e Sudeste. São materiais onde as pessoas do semiárido não se veem, nem se reconhecem. Afinal, eles vêm carregados de sofrimento, tristeza e assistencialismo e essa não é a imagem que se vê por aqui.
Mas se as pessoas não se reconhecem nos veículos de comunicação do Sul e Sudeste, como é possível comunicar esse Semiárido vivo, rico e bonito que se têm por aqui? Um movimento de comunicação popular e comunitária vem nos últimos tempos ganhando força e se contrapondo à grande mídia. É um movimento que reúne as comunidades, agricultores/as, comunicadores/as populares, educadores/s, jovens, crianças e adolescentes e movimentos sociais de luta pelo direito à comunicação.
São as rádios comunitárias que ainda persistem, os boletins que contam as experiências e a vida dos agricultores/as e agricultores, os jornais-mural produzidos pelos alunos/as nas escolas do campo, os autofalantes e sistemas de rádios poste nas comunidades, o acesso à internet e às redes sociais, nas quais as pessoas do semiárido postam e compartilham as notícias, e também os muitos intercâmbios de experiências que as pessoas compartilham seus diversos saberes sobre agricultura familiar, agroecologia e organização comunitária.
Mostram ainda que são sujeitos de direito, protagonistas de suas vidas e de suas histórias. Mostram que o Semiárido em que vivem não é aquele lugar sombrio que é retratado pela grande mídia, o Semiárido em que vivem é um lugar de luz. De milhares de candeeiros acesos e bocapius carregados de esperanças e de histórias bonitas e de luta.
Mas esse movimento ainda tem muitos passos a trilhar. É movimento que incomoda e tem alguns percalços no caminho. A estrada da democratização da comunicação, por ser pouco conhecida e divulgada, é uma estrada íngreme e que precisa somar muitas forças e novos aliados. Esse conjunto de esforços quer atingir um objetivo: a regulação da mídia no Brasil. Só quando isto acontecer efetivamente é que irá brotar no Semiárido além de água, alimento, vida, alegria e também muitas e novas vozes. Vozes e muitos sotaques que vão comunicar aos quatro cantos o Semiárido da convivência, da resistência e da justiça!
Para saber mais sobre o projeto de lei que prevê a regulação da mídia no país, acesse o endereço: http://www.paraexpressaraliberdade.org.br/ e conheça a campanha Para Expressar a Liberdade.