Construção de parcerias e gerenciamento comunitário dos recursos hídricos no Semi-Árido brasileiro
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O Semi-Árido brasileiro é uma região que compreende 11 estados e se estende por 975 mil quilômetros quadrados. Nele vivem cerca de 23 milhões de pessoas. É o Semi-Árido mais populoso do planeta e também o mais chuvoso. A média pluviométrica é de 700 mm/ano. Curiosamente, é uma região de déficit hídrico. Isso quer dizer que a quantidade de chuva é menor do que a água que evapora, numa proporção de 3 para 1. Ou seja, a quantidade de água que evapora é 3 vezes maior do que a de chuva que cai. Daí, a importância de guardar a chuva adequadamente.
A partir dessa constatação, organizações da sociedade civil com atuação no campo, junto com agricultores e agricultoras, passaram a trabalhar sob uma nova lógica, que leva em consideração a interação entre a pessoa e o meio ambiente, onde o ser humano adapta-se às condições da natureza de forma harmônica, aprendendo suas potencialidades e respeitando seus limites e fragilidades. A isso chamamos convivência com o Semi-Árido.
Esse novo jeito de trabalhar na região tem no armazenamento da água de chuva o fio condutor para um conjunto de práticas que vão, gradativamente, dando corpo a um projeto de desenvolvimento sustentável para o Semi-Árido. Esse projeto vem sendo costurado pela Articulação no Semi-Árido Brasileiro (ASA), uma rede de 750 instituições que há nove anos atua na promoção de políticas públicas para a região.
Entendendo que a água não é bem de consumo, é direito humano básico, é ao mesmo tempo alimento necessário à vida e insumo para a produção de outros alimentos, a ASA elaborou o Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semi-Árido. Esse programa abriga tecnologias de captação e armazenamento de água para consumo humano e para a produção de alimentos.
A primeira proposta desenvolvida no âmbito desse programa visa atender uma necessidade premente da população que vive no campo, a água para beber. É o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), que tem a meta audaciosa de proporcionar, com a construção de um milhão de reservatório, água suficiente para cinco milhões de pessoas. Juntas, as cisternas formam uma infra-estrutura descentralizada de abastecimento com capacidade para 16 bilhões de litros de água.
Iniciado em julho de 2003, o P1MC é um programa de tecnologia simples, adaptável a qualquer região. Esse reservatório, que armazena a água da chuva colhida nos telhados das casas, caracteriza-se como elemento agregador de vários anseios das famílias do Semi-Árido.
A cisterna supre a necessidade das pessoas de ter água para beber, cozinhar e escovar os dentes, disponível em quantidade suficiente para atender a demanda da família nos meses de escassez de chuva na região; de boa qualidade, melhorando a saúde; e perto de casa, evitando as longas caminhadas em busca do que beber.
Junto com a água, a cisterna traz também conhecimentos. A percepção das famílias, ao conquistarem suas cisternas, de que a mobilização da comunidade para alcançar um objetivo comum pode gerar frutos, faz com que os resultados obtidos pelo P1MC se prolonguem para além da con