Água de carro-pipa mata 37 em Alagoas

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A distribuição de água sem tratamento por carros-pipa no interior de Alagoas pode ser a causa de doenças diarreicas agudas que causaram a morte de 37 pessoas no período entre 19 de maio e 30 de junho último, de acordo com informação do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

O fato foi revelado ontem em audiência pública na Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados que discutiu a operação, a cargo do Exército, de distribuição de água a 810 municípios nordestinos em Estado de calamidade pública devido à seca, por meio de caminhões-pipa.

Segundo nota técnica do departamento do Ministério da Saúde apresentada durante a audiência pública, informações da Secretaria de Saúde de Alagoas dão conta de que “os carros-pipa estão captando água bruta e não estão realizando nenhum tipo de tratamento, antes de disponibilizá-la para a população, o que causa alto risco à saúde”.

De acordo com o documento, análises da água para consumo humano distribuída em Alagoas evidenciaram a presença de diversos tipos de micro-organismos causadores de doença, como Escherichia coli, Shiguella, Salmonella, Salmonella typhi, Vibrio cholerae, rotavírus, protozoários e cianobactérias. Informações fornecidas pelo Comitê de Combate à Seca de Alagoas, acrescenta a nota técnica, revelam que os carros-pipa estão abastecendo 2.234 localidades afastadas e 77 municípios, o que representa 75% do total dos municípios alagoanos.

Do total de 50 municípios alagoanos reconhecidos pelo governo federal em situação de emergência ou calamidade pública, 13 apresentaram pelo menos um óbito por diarreia. A pior situação é no município de Palmeira dos Índios, com 7.280 atendimentos de diarreia e dez óbitos.

A situação foi classificada como “alarmante” pela representante do Ministério da Saúde, Mariely Daniela, porque o problema vem ocorrendo não apenas em Alagoas, mas em outros Estados nordestinos que enfrentam a seca com o uso de carros-pipa. Ela ressaltou que é preciso clorar a água para ser consumida pela população, pois as análises de laboratório demonstram até mesmo a contaminação por fezes.

Para tentar impedir que a situação se agrave, a Secretaria de Saúde de Alagoas tem articulado com o Exército e a Defesa Civil estadual a desinfecção da água dos carros-pipa, em colaboração com a Funasa, “que disponibilizou a unidade móvel de laboratório e técnicos para a realização das análises de água” e com a Secretaria de Recursos Hídricos do Estado. Uma equipe do Ministério da Saúde também está realizando investigação em Palmeira dos Índios.

O representante do Exército na audiência, coronel Neuzivaldo dos Anjos Ferreira, responsável pela operação dos carros-pipa no Semiárido nordestino, disse que é impossível para o Exército e os donos dos caminhões-pipa se responsabilizarem pelo tratamento da água distribuída à população, mas ressaltou que a finalidade da operação é abastecer de água potável toda a região onde a seca ocorre desde 2012.

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