Uma solução que vem dos esgotos
Se tratado, o esgoto dos municípios do Semiárido do Estado seria suficiente para levar água para 6.767 hectares, o equivalente a 22,35% da área atualmente irrigada na região. É o que mostra levantamento da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Aparentemente, a área é pequena. Entretanto, nós estamos falando de uma água que é jogada fora ou desperdiçada diariamente, poluindo o solo e rios. Em 6.767 hectares poderíamos produzir por ano 15.564 toneladas de algodão ou 50.211 de milho ou ainda 7.706 de feijão”, cita o responsável pela pesquisa, o engenheiro Valmir Marques de Arruda.
Em apenas cinco das 122 cidades do Agreste e Sertão, aponta Valmir, projetos de reúso de água seriam praticamente inviáveis: Granito, Verdejante, Brejinho, Iguaraci e Serra Talhada. Autor de tese de doutorado sobre o assunto, ele explica que esses locais apresentam solos rasos, relevo desfavorável, pedregosidade, rochosidade e riscos de erosão.
“A estação de tratamento de esgoto, pela lógica, deve ser implantada perto dos aglomerados urbanos”, justifica Valmir, professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). A partir dessa análise, o engenheiro calcula que 96% dos municípios avaliados mostram viabilidade para implantação de projetos de reúso agrícola.
A estimativa de Valmir foi feita para o doutorado em Engenharia de Recursos Hídricos e Tecnologia Ambiental da UFPE, vinculado ao Departamento de Engenharia Civil, sob a orientação de José Almir Cirilo, professor da instituição e secretário de Recursos Hídricos e Energéticos de Pernambuco.
Os cálculos são uma projeção para 2025, quando a demanda hídrica esperada no campo será de 20 mil metros cúbicos (m³) de água por hectare ao ano.
Na opinião do pesquisador, projetos de irrigação com base em águas residuárias podem estimular a formação de núcleos produtivos locais. “Isso proporcionaria a geração de renda, ao passo que evitaria o lançamento de esgotos, mesmo tratados, em corpos receptores com processo histórico de degradação.”
Para estimar o volume de esgoto, os especialistas tomam com base o consumo de água. Para cada 100 litros utilizados numa casa, 80 são descartados. Atualmente, o perímetro irrigado do Semiárido pernambucano totaliza 30.279 hectares. O custo para a instalação de um projeto de reúso agrícola, levando em conta só a irrigação, de acordo com Valmir Marques de Arruda, é de aproximadamente R$ 130 por cada habitante. “Esse valor representa em torno de 17,5% do total investido em todo projeto de saneamento e reúso”, afirma. Algumas das culturas que poderiam ser irrigadas com águas residuárias são milho, feijão e algodão, as mais comuns no Semiárido.
A pesquisa analisou ainda a percepção da população rural em relação à possibilidade de irrigar as plantações com água proveniente do esgoto tratado. “Há uma aceitação para o cultivo e consumo de produtos através de reúso agrícola, sobretudo, com informações seguras da qualidade apropriada dos efluentes utilizados.”
Incluindo os custos com a rede coletora de esgoto e o sistema de irrigação, um projeto de reúso agrícola tem valor estimado em R$ 745 por habitante. “Não é muito dinheiro, levando-se em conta os vários benefícios”, argumenta.