A história se repete

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O semiárido nordestino sofre a pior seca dos últimos 50 anos, já tendo atingido mais de dez milhões de pessoas. Sem chuva, repetem-se os dramas conhecidos pelos moradores da região. Faltam água e comida, há queda na produção agrícola, morte do rebanho, reflexos negativos na economia. Os agricultores deixam suas casas em busca de centros maiores para garantir a sobrevivência.

Até agora, mais de mil municípios decretaram estado de emergência, está havendo racionamento de água nas cidades. Alagoas, em Maceió, foi a primeira capital nordestina a decidir pelo abastecimento controlado.

Dos 184 municípios cearenses, 175 estão em emergência. As chuvas ficaram mais de 50% abaixo da média histórica e embora a Funceme se mostre cautelosa em divulgar prognósticos para 2013, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) adiantou que novas precipitações só em fevereiro. Chuvas que podem não ser suficientes para resolver o problema da escassez de água.

A situação mobiliza as autoridades e tem sido discutida no Congresso Nacional. Os governantes locais solicitam recursos federais em caráter extraordinário para socorrer as vítimas. Em paralelo, campanhas de solidariedade arrecadam alimentos, roupas e medicamentos para estas mesmas vítimas. Todas estas ações têm funcionado sobremaneira para atenuar o quadro de fome, da mortalidade infantil, do êxodo rural, mas são de caráter paliativo.

Os problemas cruciais são resolvidos agora, mas não garantem o amanhã. E sem perspectiva de chuva, a tendência é de tempos mais difíceis nos próximos meses. As precipitações que têm ocorrido nos últimos dias no Ceará são da pré-estação chuvosa, compreendida pelos meses de dezembro e janeiro. Não possuem qualquer associação com a quadra invernosa, que acontece de fevereiro a maio. Ter uma boa pré-estação não significa o advento de uma quadra chuvosa de qualidade.

Longe de minimizar o drama no qual estão vivendo os nordestinos, o fato é que, em relação às secas anteriores, apenas os números são novos. A história se repete com todos os meandros e detalhes, pois o Semiárido do Nordeste possui como principal característica os períodos de insuficiência de chuva.

O caráter cíclico da seca é de notório saber dos gestores públicos. Não é fenômeno surpreendente porque faz parte do contexto físico dos Estados inseridos neste clima. Não haveria razões, portanto, para provocar tantos danos quando o fenômeno se estabelece, caso mais ações preventivas fossem executadas.

Atualmente, as cerca de 700 mil cisternas construídas nos últimos dez anos têm dado fôlego às famílias beneficiadas. Criadas para armazenar água de qualidade durante os períodos de chuvas, estão ajudando a minorar os efeitos da seca permitindo a essas famílias permanecerem em suas terras, apesar da longa estiagem. As cisternas, porém, são apenas um projeto solitário.

A forma pela qual a seca é tratada segue o mesmo modelo do passado. As ações de combate são pontuais, um sistema decisório que precisa ser modificado. Há de se estabelecerem ações preventivas interligadas, tendo uma coluna dorsal como norte, para ampliar o leque de medidas de convivência permanente com o flagelo.

Não se pode mais ficar como refém de uma questão climática como se ela fosse soberana. Muito menos, como tem acontecido, deixar para atuar somente quando a calamidade se instala.

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