Destinar recursos para agricultura familiar é desenvolver o país
Em seu primeiro Boletim da Agricultura Familiar, a FAO, braço da ONU para agricultura e alimentação, indica que 60% da produção de alimentos e da área dedicada à atividade na América Latina e Caribe saem da agricultura familiar. Não só. Também 70% dos empregos rurais são ali gerados.
Ótimo. É a FAO reconhecendo aquilo que o IBGE mostrou sobre o Brasil, no Censo Agropecuário de 2006, e que a Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA) quis negar através de estudos mal realizados.
E aos desavisados sugiro não verem nisso fato menor, pois folhas e telas cotidianas preferem repercutir feitos da nossa balança comercial, enquanto pobres bolivianos, hondurenhos e brasucas, plantando cebolas nos Yungas, cultivando bananas ao longo do Rio Choluteca, ou tirando leite de vaquinhas no semiárido nordestino, tratam da nossa balança estomacal.
Apenas que não deveriam ser pobres. Basta verificar como ocorreram origem e consolidação da produção de alimentos na Europa e Estados Unidos, a partir de células familiares, trabalhando em pequenas extensões de terras as culturas de sua alimentação.
Por que na América Latina e no Caribe seria diferente?
Diferente é parte do Brasil, onde características de colonização, geografia e modelagem na aquisição de terras, levaram à formação de extensos latifúndios que apenas recentemente estão se tornando produtivos.
Mesmo aqui, no entanto, a relevância da agricultura familiar na produção é até maior do que a revelada pela FAO para a América Latina e Caribe.
Depois de décadas esquecido, para a safra 2012/13, o governo está destinando R$ 22,3 bilhões para o segmento. A soma é relevante, inédita, merecida e, para ser ainda melhor, seguindo a nossa última conversa aqui sobre o INCRA, deveria ter parte direcionada aos assentamentos agrários já implantados.
Oferecer serviços de assistência técnica, crédito, seguro e garantia de preços é reproduzir a vitalidade econômica e social que se obteve nas regiões agropecuárias dos países desenvolvidos do planeta.
Mais: influenciaria em suas perenidade e fixação regional, impedindo o êxodo rural que assistimos no Brasil, principalmente, no século passado.
Por que na Europa, por exemplo, os movimentos migratórios trouxeram aos centros urbanos mão de obra egressa de suas antigas colônias, senão pelo fato de que as famílias nativas podiam permanecer em suas regiões rurais de origem?
O Brasil é um país novo. Tem todas as condições de completar essa tarefa. Área, clima, conhecimento tecnológico e, segundo o IBGE, em 2006, 4,4 milhões de estabelecimentos rurais com essas características, o que representa 84% do total das propriedades.
Ocupam, em contrapartida, apenas 24,3% da área, onde respondem por quase 40% do valor bruto da produção nacional de alimentos.
Precisam mais? Certeza. Altos contingentes de famílias ainda perambulam pelos campos em busca de trabalho numa atividade que é econômica em ofertar empregos.
De qualquer forma, destinar mais recursos para aqueles que já têm seu pedaço de terra para plantar é um grande avanço.
O cordelista Bule Bule sabe disso.
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