Fragilidade no campo

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O governo federal manifestou a intenção de criar uma agência para cuidar da área de assistência técnica e extensão rural. O objetivo é suprir a fragilidade do país no setor e disseminar boas práticas agrícolas. Ao discursar no lançamento do Plano Agrícola e Pecuário 2012/2013, quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff anunciou que o governo trabalha também na formatação de um plano nacional de armazenagem. “Temos uma certa fragilidade na área de assistência técnica e extensão rural. Estamos montando uma política para essas áreas e pensando na instituição de uma agência capaz de providenciar e disseminar as melhores práticas a partir de protocolos e pacotes tecnológicos, criando e especializando um grupo de agentes públicos que terá ligação com os órgãos de extensão estaduais e cooperativas. Esse talvez seja um dos maiores desafios do meu governo”, destacou.

Diante do posto pela presidente, é bom deixar claro que o país tem a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a maioria dos estados suas empresas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematers), e alguns também empresas de pesquisas. Ocorre que nas últimas décadas, por questões políticas e administrativas, muitos governos estaduais praticamente deixaram de investir nas atividades dessas empresas, que ficaram sucateadas e desprovidas de material técnico e humano para cumprir suas funções. Caso estivessem com sua estrutura atualizada, longe estaria o governo federal de pensar em criar uma ou mais agências nessa área.

No anúncio do Plano Agrícola e Pecuário 2012/2013, que prevê investimentos de R$ 115,2 milhões – em 2011, foram R$ 107 milhões – para financiar a agricultura comercial, a presidente destacou a importância do segmento para o enfrentamento da crise econômica internacional e considerou que não há contradição entre a preservação ambiental e a atividade agrícola: ela cresceu 180% e, ao mesmo tempo, a área ocupada 30%. Isso não deixa de ser realmente importante, pois o Brasil tem 60% dos biomas florestais intocados, mesmo sendo uma das maiores potências agropecuárias do planeta.

Portanto, a ideia de criar uma agência para cuidar da área técnica e extensão rural pode até ser válida, mas primeiro o governo federal deveria chamar os estados às falas e saber de seus governantes o que cada um deles dispõe nesse setor. O passo seguinte seria revitalizar essa estrutura, muitas delas emperradas há anos. Mesmo nas unidades da Federação em que as atividades agrícolas são intensas há muita deficiência e falta de investimentos em pesquisa e extensão rural; nas demais nem é bom pensar. Feito isso, com um inventário do que os estados e cooperativas têm a oferecer ou precisam para pôr para funcionar, de forma plena, essa máquina, a União teria melhores condições para pensar numa agência para “suprir fragilidades”, no apoio ao homem do campo. Sem saber dessas condições, montá-la pensando em trabalho concatenado com esses entes é um equívoco.

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