A vez da caprinocultura

Compartilhe!

“Não sinta inveja de mim. Não sou rico, apenas trabalho”. A frase está em um enfeite, pendurado na porta da casa, e resume o modo de viver da família de Jorge Cabral e Lurdes Oliveira da Silva. Moradores do assentamento rural Boa Vista, em Quixadá, região central do Ceará, eles estão animados com o desenvolvimento da caprinocultura leiteira, que constituí-se num forte instrumento de melhoria de vida da população rural, pois é uma importante fonte de renda para o setor produtivo primário e um dos poucos mecanismos capazes de fixar o homem no campo

Fazer com que os conhecimentos tradicional e científico se encontrem e, assim, ter cada vez mais capacidade de convivência com as características da região semiárida. A estratégia do Projeto Dom Helder Câmara foi responsável por uma grande mudança na estrutura produtiva do assentamento rural Boa Vista, em Quixadá (CE): a troca de vacas por cabras. E a caprinocultura leiteira tem trazido bom retorno aos assentados – como explicam Jorge Cabral e Gilberto Ursolino de Lima. “Em termos de renda, a solução é a cabra leiteira”.

Os produtores contam que passavam meses alimentando as vacas e o dinheiro apurado com a venda do leite (R$ 0,60 por litro) não dava para pagar nem a ração do rebanho. Há um ano e quatro meses, entraram no programa Compra Garantida, por meio do qual têm a produção adquirida pelo Governo do Ceará, a R$ 0,80 o litro. Assim, o leite de cabra do Boa Vista vai para a merenda escolar da região.

Queijo nobre

Lurdes Oliveira da Silva e seu esposo, Jorge Cabral, moradores do assentamento rural Boa Vista, estão animados com a atividade pecuária. Com o pequeno rebanho, ela começou um novo negócio que vai dando gosto: a produção de queijo de cabra. As cabras passam o dia na Caatinga, de onde vem o grosso da alimentação do rebanho. O processo de fabricação do queijo é simples e ela faz na cozinha de casa mesmo. “Deixo o leite aquecer até 65 graus, por cinco minutos. Depois, boto para resfriar até 35 graus e ponho para coalhar”. Para incrementar o produto, tempera a massa com orégano, canela ou pimenta. Cada peça de queijo sai a R$ 12,00 e ela trabalha sob encomenda. “Não tem mercado próprio, ainda”, diz. A produção abastece a pousada rural comunitária do assentamento. “Também faço pastel e recheio com o queijo natural. O pessoal adora, pelo sabor, pela qualidade nutricional. Leite de cabra é melhor para quem tem intolerância, por exemplo”, explica, vendendo seu ganha-pão. Ressalta que a filha mais nova foi criada à base desde produto.

Natural de Quixadá, Lurdes está no assentamento desde o começo. Ela faz questão de ensinar à filha mais velha, Josiane Oliveira da Silva. A jovem cursa o 3º ano do Ensino Médio na cidade e sonha em fazer faculdade. Nada na área de gastronomia. Quer aprender línguas estrangeiras. “Ajudo a mãe com o queijo, quando ela tem que fazer outra coisa, mas acho que não nasci pra isso”, afirma.

A caprinocultura leiteira é considerada uma atividade de grande capilaridade e de imenso cunho social pela variedade de produção de alimentos e consequente geração de emprego e renda, a médio e curto prazos. A atividade é uma realidade crescente no Brasil, com uma oferta potencial de leite estimada em cerca de 6,1 milhões de litros anuais. Entretanto, apresenta um déficit de 5,9 milhões de litros, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os produtos lácteos de caprinos giram em torno de 95% para leite fluido, 3% para leite em pó e 2% para os queijos. O Nordeste é detentor de aproximadamente 92% do rebanho nacional de caprinos e participa com pouco mais de 26% da produção de leite de cabra, e com 17% do total comercializado. As regiões Sul e Sudeste respondem, respectivamente, por 68% e 78%.

No Ceará, o rebanho é explorado para produção de carne, pele e, em menor escala, leite – cuja criação é efetuada geralmente em sistema extensivo de produção. A baixa pluviosidade da região faz com que os animais apresentem baixos índices de produção e produtividade. Esses índices, associados à pequena demanda regional, são responsáveis pela pouca oferta de leite no mercado.

O agricultor familiar ressente-se da falta de um preço justo para o seu produto, restringindo o seu desenvolvimento e desestimulando-o a prosseguir como empreendedor na cadeia produtiva da caprinocultura leiteira.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *