Semiárido: um desafio para o Brasil
A sociedade brasileira tem demonstrado a capacidade de superar os desafios. Viabilizar o semiárido, no entanto, é um desafio, ainda, a superar. Qualquer trajeto de uma caminhada desenvolvimentista para o Brasil passa por essa superação. O momento e o tema merecem uma reflexão.
Começam a ficar visíveis, nas vilas e cidades sertanejas, comércios mais pujantes, frutos dos recentes avanços como o crescimento do PIB per capita acima da média nacional e uma melhoria do nível de renda alavancada pelo aumento do mínimo, benefícios da Previdência e dos programas de distribuição de renda.
Essas condições, no entanto, são necessárias, mas não são suficientes para transformar uma realidade, ainda, de subdesenvolvimento. Sendo forte, o sertanejo precisa, antes de tudo, ser próspero. Assim, urge um olhar diferenciado visando encontrar modernas veredas para o grande sertão.
O mito negativista, distorcido ou proposital de um semiárido inviável deve ser demolido. No Nordeste temos o semiárido mais chuvoso do planeta. O problema não é a falta, é a irregularidade das chuvas. É impossível combater a seca. O possível é a prevenção e a convivência com esse fenômeno cíclico visando produzir riqueza, reduzir a pobreza e preservar a natureza.
O maior vigor no mercado interno e um crescente dinamismo na economia nordestina mostram que chegou a hora para um choque de progresso, transformando o mapa geoeconômico, ainda no desenho colonial, de uma industrialização predominante no litoral. Para isso, é fundamental cooperação e parceria entre todas as instâncias da administração pública – União, estados e municípios – para uma difusão e aplicação das tecnologias adequadas e/ou adaptadas à realidade do Nordeste.
Não vai ser preciso reinventar a roda. São diversos os estudos e pesquisas sobre o semiárido que repousam nas estantes ou estão arquivados nos computadores das instituições de ensino e pesquisa. A organização e utilização prática desse conhecimento são princípios para um programa de desenvolvimento regional integrado e de uma política de convivência inteligente com a seca.
A implantação de sistemas produtivos diversificados para gerar trabalho e renda, a melhoria na educação e da capacitação profissional, saúde pública eficiente, atividades de esporte, cultura e lazer apoiadas por uma infraestrutura urbano-rural moderna elevariam a qualidade de vida do sertanejo. Essas são as principais variáveis de um modelo viável para minimizar o êxodo rural, que é uma das causas do inchamento urbano e das suas consequentes mazelas de desemprego, favelização e violência.
O cenário global de fomento às energias limpas é uma oportunidade mercadológica para a inovação tecnológica. A potencialidade do semiárido para as energias eólica e solar é indiscutível , visto ser visível. O sol não é um vilão, ele é o nosso irmão. A utilização da biomassa e o cultivo de sorgo para etanol são alternativas válidas para a Terra do Sol.
As discussões ecoideológicas devem resultar em atitudes lógicas. A diversidade será protegida com a prosperidade e melhor qualidade de vida no meio rural. Disseminar técnicas já pesquisadas, que precisam ser bem aplicadas, de manejo agroflorestal é a forma de conter a degradação da caatinga. Contra os males da desertificação, o melhor remédio é uma boa ação.
Preservar e produzir para progredir. Um plano para utilização racional dos recursos hídricos aliado a um manejo adequado dos solos é uma estratégia inteligente para uma convivência com a inevitável seca. A caatinga permite consorciar as espécies vegetais, nativas e/ou adaptadas, com a pecuária bovina ou ovinocaprina, em seus diversos níveis e portes. Tem lugar para todo mundo produzir. O sertão não virou mar, mas produz a comida de quem vive na beira do mar.
O Nordeste precisa de um caminho com motivação, boas práticas e ação. Vale transformar o melancólico lamento da fuga ao estio e ao tormento para o ruflar da volta da Asa Branca como símbolo da paz e de um veloz e audacioso voo para um futuro de sucesso.
Publicado no A TARDE em 29 de setembro de 2010