Agricultores amargam perdas

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Sábado é dia de feira. Na Região Metropolitana, dezenas de pessoas se movimentam pelos corredores do mercado público de Cascavel para abastecer a despensa. E é na alta dos preços dos gêneros básicos que se sente o impacto da queda na safra deste ano. Os agricultores reclamam que, o que perderam na lavoura e no pasto, precisa ser comprado, e caro, enquanto os comerciantes adquirem o pouco que conseguiram no campo por um preço abaixo dos custos.

Dados do último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que, em agosto, o Estado registrou a segunda maior perda na safra de grãos nos últimos 15 anos. Foram 343.958 toneladas, uma queda de 74,99% em relação à estimativa traçada no mês de janeiro.

Segundo o feirante José da Silva, o feijão que abastece Cascavel vem de Morada Nova (onde há um perímetro irrigado), além de Estados como Bahia e Tocantins. No fim de agosto, o feijão utilizado como ração para os porcos era vendido na feira por R$ 1,50 o quilo. O feijão da variedade sempre verde, importado da Bahia, custava R$ 2,50 e canapun, vindo de Morada Nova, a R$ 3,00.

“O pouco que deu aqui o agricultor já comeu no inverno ou guarda para semente. O canapun eu vendia por R$ 2,50 no ano passado, mas tive que aumentar porque a safra foi fraca até em Morada Nova. É difícil para todo mundo, meu lucro não passa de R$ 0,20 por quilo de feijão”, lamenta o feirante.

Com o milho não é diferente. O feirante Antônio Luís da Silva afirma que há tempos não via uma alta como aquela nos preços. “Se quiser vender, tem que comprar de fora, e é pelo preço que eles impõem. Cada vez vai ficando pior”. O quilo do milho, que em 2009 era vendido por R$ 0,50, na banca de seu Antônio agora custa R$ 0,80, importando também da Bahia. “E pelo o que a gente está sentindo, daqui a um tempo vamos vender a R$ 1,00 ou mais”.

O feirante Francisco José de Sousa vendia o restante das espigas de milho que trouxe de Tijucuçu, a 12km da sede. O próprio feirante reconhece que a espiga não é de boa qualidade. “Aqui eu vendo quatro dessas por R$ 1,00. No ano passado, eram 10 espigas por R$ 1,00, e de qualidade bem melhor que essa”.

A operária Francisca Luciene Rodrigues da Costa veio de Aquiraz para fazer a feira. “Aqui está caro, mas lá em Aquiraz o mercantil vende o feijão a R$ 4,00. Aqui a gente comprava feijão a R$ 1,50 no começo do ano, agora é R$ 3,00 e os feirantes só dizendo que vai aumentar mais”. Luciene conta que, há seis anos, ela e os dois filhos desistiram da lavoura e hoje trabalham numa fábrica de confecção. “Se fosse viver só da roça não dava”.

Em Sítio Lagoa, a 11km da sede de Guaramiranga, o agricultor Antônio José Teodoro Silva mostra a plantação de chuchu perdida no pé. “Antes se tirava aqui umas 600 caixas de chuchu por semana. Hoje não passa de 10”, calcula, lembrando que, dos 12 agricultores do local, só ele restava no serviço.

O riacho usado para regar a plantação está secando. O agricultor conta que estão tentando colher abóbora em outra parte do terreno, mas acredita que vai ter o mesmo destino da área plantada com chuchu. “De que adianta estar verde se o fruto fica murcho? Vai comer as folhas?”, questiona ele.

Os criadores de gado definem a crise deste ano como “um boi comendo o outro”: tentam manter as melhores reses, vendendo as mais fracas enquanto elas ainda rendem preço. “A gente peleja para ver se o gado escapa até dezembro, mas é muita despesa. Sem pasto, tem que manter na ração”, explica o criador Antônio Brito de Castro, que vive no Distrito de Barra Verde, a 23km de Aiuaba.

No Distrito de Bonitinho, em Canindé, o criador Luís Gonzaga trouxe de seu sítio, em Fortaleza, cana para complementar a ração dos bovinos. “Uma vaca por três meses custa cerca de R$ 450,00, e quando vende não passa de R$ 700,00”.

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