Bebe água suja ou morre de sede
Só há uma cacimba para cerca de 100 famílias. Aliás, um cacimbão, mas com pouca água. Um líquido esverdeado, sujo onde se encontram insetos e batráquios. “Vim pegar água hoje (ontem) e tirei um sapo. Olha ele alí”, aponta a dona de casa Maria Aldeci Roque para o bicho morto. É essa a água que consomem os moradores da localidade Barra do Leão, em Caridade, no Sertão cearense.
Eles até se organizam para que todos tenham vez. Só um jumento passa o dia carregando os vasilhames. “Começa de manhã cedinho. Ao meio-dia, ele (o jumento) descansa e fica no pasto, e à tarde volta de novo. É o jeito, só temos este animal”, lamenta o dono, Francisco José Jerônimo.
Ele diz que os carros-pipa deixaram de abastecer a localidade nos primeiros dias deste mês. E como não existem açudes por perto, a solução é caminhar com o jumentinho três quilômetros (ida e volta) carregando a água do cacimbão. “As pessoas estão ficando doente, com dor de barriga, diarreia, mas a gente não vai é morrer de sede”, diz o agricultor Lourival Roque.
Um total de 72 municípios do Interior está sem receber água da Operação Pipa. Coordenado pelo Exército, desde o último dia 12 o programa foi suspenso pela falta de verbas. Há localidades onde até a merenda escolar deixa de ser feita por causa da escassez. Isso ocorre na zona rural de Aiuaba, no Sertão dos Inhamuns, a 355km de Fortaleza, onde cerca de três mil famílias estão praticamente sem água para o consumo.
O mesmo ocorre em Ocara, a 101 km de Fortaleza. “Os carros-pipa estão fazendo muita falta, porque há casas que não têm cisternas de placas e não deu para guardar água do período chuvoso do ano passado”, informa a agricultora Julia Vieira da Costa. Ela diz que, desde janeiro, as chuvas são fracas e não deu nem para encher as cisternas.
“Temos de consumir água de péssima qualidade. Quem tem dinheiro pode comprar 10 mil litros de água (vendidos por carros-pipa particulares) ao preço de R$ 180, mas quem não tem o jeito é sair de casa cedo com os depósitos. Chego a percorrer até seis quilômetros”, diz Francisco Anderson Martins, de Aiuaba.
Também na residência de Aldeci e Antônio Silva Abreu, na Baixa do Juá, em Caridade, a água é de péssima qualidade. “Só dá pra tomar banho, lavar a roupa e a louça. Olha como é verde”, mostra Aldeci. “A água de beber, que está na cisterna, só dá até o fim do mês e aí a gente vai ter de caçar um meio pra arranjar outra”, prevê Antônio.
O coronel Luiz Benício, da 10ª Região Militar, responsável pelo Escritório Regional da Operação Pipa disse que até segunda-feira serão reativados os carros-pipa. Os recursos para a reativação, no valor de R$ 70 milhões já foram repassado pelo Ministério da Integração Nacional para o Exército Brasileiro responsável pelo programa. (Colaborou Amaury Alencar)
E MAIS
– Em Caridade, a 87,5 quilômetr