Prenúncio de pouca chuva
No semiárido nordestino, a seca é um fenômeno natural, parte integrante de sua constituição geofísica, com repercussões sociais gradativas, em razão da diversidade da feição econômica regional. Ainda assim, suas consequências afetam, por demais, os grupos humanos remanescentes nas áreas rurais ilhadas pelo isolamento secular. O semiárido, pela própria natureza de seu subsolo, é carente de água por não armazenar as chuvas caídas por ocasião dos invernos normais. Quando elas faltam, o quadro se agrava.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), embora não tenha concretizado um dos objetivos do professor João Ramos, líder da equipe que a concebeu, na década de 70 – o das chuvas artificiais -, conseguiu estabelecer um marco divisório nas atenções dispensadas pelos governos a seus efeitos calamitosos. O emprego da tecnologia avançada nas sondagens das mudanças climáticas tem eliminado a angustiante indefinição do tempo, como ocorria outrora, antes da caracterização da calamidade.
Nos dias atuais, a previsão do tempo pode oferecer prognósticos para horas, dias, meses e anos, tão variado é o arsenal de recursos disponíveis e informações diversificadas sobre as condições atmosféricas e os efeitos relacionados com as chuvas. A Funceme conseguiu avanços significativos no campo de perquirição da natureza, com a particularidade de haver se alinhado com os grandes centros de pesquisas meteorológicas, nacionais e internacionais, em que há uma só linguagem.
As possibilidades de reversão de expectativas existem e seus efeitos estão previstos nas probabilidades de ocorrências de chuvas. Os relatórios com as previsões não usam a linguagem da objetividade, necessária à tomada de providências administrativas, mas não deixam dúvida sobre o tempo no futuro. Esses prenúncios são coletivos, como ocorreu nas três reuniões de avaliação climática para o Nordeste, realizadas pelos Centros de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e Instituto Nacional de Meteorologia.
Estes organismos concluíram, de forma clara e sucinta, pela baixa pluviosidade no Nordeste, este ano.
No Ceará, o terceiro prognóstico da Funceme, respaldado por essas entidades, aponta volume de chuvas menor do que 400 milímetros. Esse quadro prenuncia uma seca, estando a exigir a montagem, o quanto antes, da estrutura de suprimento de água das populações afetadas, mediante o esdrúxulo carro-pipa.
O Dnocs, ao longo do século, construiu 320 açudes de grande porte no Nordeste, a maior parte deles no Ceará. Esses reservatórios continuam perdendo a cada ano 40% do estoque de água acumulada pela evaporação. Enquanto isso, não se racionaliza o uso dos 4, 96 bilhões de metros cúbicos de água represados no Açude Castanhão.
Os governos precisam fazer a entrega de água potável aos obstinados agricultores que se não deixaram levar pelo êxodo rural. Projetos de adutoras se multiplicam nas pranchetas dos planejadores. Só a água não chega a quem tem sede. O atraso no sistema de aba