Semiárido – Cooperação é sinônimo de água no semiárido
Com a construção e manutenção colaborativas de cisternas ou a consciência de que a água disponível em um poço não é só para si, iniciativas levam água e promovem justiça no semiárido
A comunidade penava. As famílias do distrito de Trapiá, a cerca de 12 quilômetros do centro de Itapipoca (Norte do Ceará), só tinham água quando dava. Como em diversas comunidades rurais do interior cearense. No mais, era carência e fé na chegada do carro-pipa ou da chuva. Até que, dois anos atrás, o poço, até então sinônimo de obra abandonada no meio da comunidade, ganhou uma bomba, e os moradores, esperança e água.
Cerca de 45 famílias se beneficiam e cuidam do equipamento manual que traz à tona água lá de baixo da terra. O equipamento foi disponibilizado pela Cáritas Diocesana de Itapipoca. A entidade faz parte do Fórum Cearense pela Vida no Semiárido que, entre outras iniciativas, promove o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2).
Foi através desse programa que a bomba foi instalada na comunidade Trapiá, mas foi também “graças a Deus”, como comemora a agente comunitária de saúde Sandra Maria Araújo Teixeira, de 44 anos. Nascida na localidade, Sandra mora vizinho ao poço e conta que, por ali, todos cuidam da água que tão dificilmente se tornou acessível. “A bomba foi montada com participação da comunidade. Todo mundo cuida porque a Cáritas trouxe a bomba, vieram montar, mas todo mundo se mobilizou pra ajudar. Foi doado telha, material pra coberta”, recorda-se.
Com o poço pronto, o cuidado permaneceu. “Meu marido olha quando falta graxa pra bomba, eles (os homens da comunidade) mesmos resolvem. Todo mundo coopera”. E por que tanta dedicação, dona Sandra? “Água é fundamental pras nossas necessidades básicas”, ensina.
Segundo a moradora, a água que sai do poço não é exatamente boa para beber. Por isso, ela é usada para os afazeres domésticos. A água de beber é a acumulada na cisterna ou a trazida pelo carro-pipa.
Mas, quando a sede bate, e o carro-pipa ou a chuva não chegam, bebe-se água do poço mesmo. Por isso, a retirada é na medida da necessidade de cada família. “Ainda não faltou água porque todo mundo tira o que acha que é pro consumo”, frisa Sandra. “As pessoas cooperam com certeza”.
Cisternas da cooperação
Projeto que também é exemplo de cooperação pela água no semiárido é o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), também executado pelo Fórum Cearense pela Vida no Semiárido. Os tanques de armazenamento que já fazem parte da paisagem do sertão (419.178 foram construídos em todo semiárido brasileiro até janeiro) são financiados pelo Governo Federal, mas nascem mesmo e são mantidos graças a múltiplas mãos.
“Há um envolvimento total da comunidade desde o momento da escolha das famílias (que recebem a cisterna) até o momentos de execução do projeto. Passa por processo de mutirão na escavação do buraco pra ser construída a cisterna, a família participa desse momento e participa da própria construção”, explica Alessandro Nunes, assessor técnico da Cáritas Regional.
Além da participação para ter a cisterna, a família aprende a cuidar do equipamento. “Você percebe claramente que projetos que tiveram todo envolvimento das famílias, da comunidade, tem sentimento de pertença maior. As pessoas se sentem parte desse projeto, donas disso”, frisa Alessandro. (Mariana Lazari)
Números
70% da Terra é ocupada por água
97,5% da água do planeta é salgada
2,5% de água doce, 68,9% está nas geleiras, calotas polares ou em regiões montanhosas, 29,9% em águas subterrâneas, 0,9% compõe a umidade do solo e dos pântanos e apenas 0,3% constitui os rios e lagos
FONTE: Manual de Educação para o Consumo Sustentável, do Ministério do Meio Ambiente