A viabilidade econômica, social e ambiental do Semiárido potiguar
Estimulados pelo artigo “Fazer parte do semiárido devia ser um ponto positivo para a economia do RN”, assinado pelo senhor Marcos Aurélio Sá e publicado no dia 25 de fevereiro no portal Jornal de Hoje, do Rio Grande do Norte, a Articulação Semiárido (ASA) apresenta outro olhar sobre o desenvolvimento da região semiárida não só do Rio Grande do Norte, mas do Brasil. Esse olhar inclui, além da dimensão econômica, os aspectos social e ambiental.
A ASA é uma rede formada por organizações da sociedade civil que acreditam, defendem e executam ações que permitem a convivência de famílias agricultoras com o Semiárido. Com tecnologias sociais capazes de armazenar água da chuva e com conhecimento para armazenar água, alimento e sementes, estas famílias se tornam capazes de produzir alimentos para seu sustento e abastecer parte do mercado local.
A defesa de um modelo de desenvolvimento que democratize recursos como água e terra, distribua riquezas e se preocupe com a sustentabilidade ambiental, gerando renda e trabalho para famílias agricultoras, baseia-se na importância da região Semiárida e da agricultura familiar para o Brasil, confirmada nos dados abaixo:
– No Semiárido, vivem 11,8% da população brasileira, ou seja, 22,8 milhões de pessoas, das quais 9,9 milhões moram na zona rural.
– Em todo o país, a população rural é de 30 milhões. Só no Semiárido estão concentrados 33% dos brasileiros que residem no campo.
– O Semiárido concentra também mais da metade (58%) da população pobre do país, grande parte na zona rural.
– Dos 1.713.529 estabelecimentos agropecuários no Semiárido, 89% (1.527.922) são familiares.
– No Brasil, a agricultura familiar no Brasil é responsável por 70% do alimento que chega à mesa dos brasileiros, mesmo ocupando apenas 25% das áreas agricultáveis e recebendo apenas 14% do crédito dado pelo governo à produção agrícola.
– A agricultura familiar emprega nove vezes mais pessoas por área e ainda é responsável por um terço das exportações agropecuárias do país.
– O outro modelo de produção agrícola, chamado de agronegócio, abocanha 86% do crédito, 75% das terras, mas produz apenas 30% dos alimentos que compõem a alimentação da população e emprega somente 1,5 trabalhadores a cada 100 hectares.
– No Rio Grande do Norte, por exemplo, estado citado no artigo de Marcos Aurélio Sá, no município de Apodi, quase toda a produção agrícola vem do trabalho das famílias agricultoras, sendo responsável pelo terceiro maior Produto Interno Bruto (PIB) agropecuário no estado.
– O PIB de Apodi supera o de municípios com projetos de irrigação voltados ao agronegócio como Assú, Ipanguassú, Carnaubais e Baraúna.
– Na região de Apodi, concentram-se importantes experiências com a agroecologia que garantem a segurança alimentar das famílias camponesas e da população das cidades através da caprinocultura, produção de leite, apicultura e cultivos de variedades encontradas somente em Apodi, como o arroz vermelho, que tem certificação orgânica da produção.
– Em Apodi, há também iniciativas de organização das mulheres, cooperativismo solidário e a geração de renda a partir do beneficiamento e comercialização de mel e da amêndoa da castanha de caju. O mel chega a ser exportado. Ainda há experiências de convivência com o Semiárido que envolvem o manejo do bioma Caatinga, a produção de artesanato, a captação e gestão das águas da chuva com as cisternas de placas, barragens subterrâneas e o desenvolvimento de práticas que valorizam o sentimento de pertencimento e a integração da população ao Semiárido.
Por todos estes dados apresentados, afirmamos com certeza e vigor que “transportar água em carro pipa para matar a sede da população; ampliar a distribuição dos benefícios do “Bolsa Família”; promover reforma agrária à base da instalação de assentamentos rurais onde as pessoas ainda usam a enxada como instrumento de trabalho; contratar ONGs para construir milhares de cisternas no interior; conceder empréstimos a fundo perdido a micro e pequenos produtores com recursos do Pronaf; doar milhões de quilos de sementes; cortar terras de graça; vender milho da Conab a preço subsidiado na tentativa de salvar os rebanhos…” é um caminho que, não só pode, como já vem transformando a realidade do nosso Semiárido.