A sabedoria que vem do Semiárido

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Agricultores do semiárido pernambucano e potiguar, que atuam emparceria com a Diaconia, vão participar do II Encontro de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido, em Pesqueira (PE), entre os dias 27 e 29 deste mês. Um destes agricultores é Francisco Ferreira Arcanjo, mais conhecido como Chico Gago, que vem do assentamento Remédio, localizado em Umarizal, Rio Grande do Norte.

Na bagagem, o agricultor traz o sucesso da horta onde cultiva verduras saudáveis e saborosas, livres de agrotóxicos. Além da experiência que reforçou a alimentação da família, ele deverá compartilhar uma série de propostas de políticas públicas para a convivência com o Semiárido, resultado da sua participação em associações comunitárias, conselhos, sindicatos e fóruns.

Depois que conheceu os seus direitos, Chico Gago passou a participar ativamente das decisões de interesse de sua comunidade. “A gente não pode ficar somente na roça não. O agricultor tem que ter conhecimento das leis e das políticas para lutar por melhorias para o Semiárido”, defende Chico.

Quem também resolveu experimentar a convivência com o Semiárido é José Mendes Sobrinho, morador da comunidade de Santo Antônio II, município de Afogados da Ingazeira (PE). Após muitas viagens a São Paulo e Brasília em busca do sustento para a família, Zé de Antônia, como é conhecido, iniciou a recuperação da sua propriedade por meio do manejo agroecológico, ou seja, preservando o meio ambiente. Isso aconteceu em 1999, portanto, o agricultor tem doze anos de práticas que facilitam a convivência com o Semiárido para compartilhar no encontro. Por exemplo, a falta d’água sempre foi um empecilho para seu Zé de Antônia viver na comunidade.

Hoje, com o poço amazonas, ele dispõe de água para beber, cozinhar e para produzir alimentos. “Quem diria que eu teria tanta fartura assim. Estou botando a mão em dinheiro que vem da minha terra”, declara Zé de Antônia, referindo-se a renda adquirida com a venda de frutas e verduras na feira de Afogados da Ingazeira (PE). O agricultor ainda se dedica a estimular os companheiros de sua comunidade a aderirem às técnicas de convivência com o Semiárido e, assim como ele, melhorarem de vida sem precisar ficar longe da família e da sua terra natal.

José Ivan Monteiro mora no sítio Bom Sucesso, município de Tuparetama (PE), e também embarcará para Pesqueira no próximo dia 27, para juntar-se a outros agricultores experimentadores da vida no Semiárido. Para compartilhar com os colegas, ele levará muita persistência e disciplina. Após muitas dificuldades por causa da falta de água, Ivan conquistou um sistema de irrigação por gotejamento, que garante o cultivo das lavouras com pouco uso d’água.

Bastou essa tecnologia para que o agricultor saísse do trabalho alugado, onde plantava milho e feijão em troca de parte da colheita, para produzir, junto com a família, alimentos para o consumo próprio. A agricultura tornou-se um grande investimento para a família Monteiro. Hoje, produzem frutas e verduras para a comercialização na feira de Tuparetama e Afogados da Ingazeira, ambas localizadas no Sertão de Pernambuco, criam abelhas, ovelhas, galinhas e 4 vacas.

O trabalho do agricultor se tornou exemplo para toda a região. Por essa razão, Ivan recebe visitas de vários agricultores, organizações não governamentais e da imprensa nacional e internacional. Quem vê o sítio Bom Sucesso hoje, nem de longe lembra o passado. “Depois que a gente ganhou esse sistema de irrigação fácil e barato, a produção aumentou demais! Agora a gente consegue produzir o alimento que a gente come e o alimento que as outras famílias comem também”, avalia Ivan, todo orgulhoso com o trabalho.

Histórias como as de Chico Gago, Zé de Antônia e Ivan Monteiro reacendem a esperança de que o Semiárido se torne uma região cada vez mais farta e próspera para se viver.

Encontro

O evento, que é uma iniciativa da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), tem como propósito reconhecer e valorizar a sabedoria de quem cria condições para se adaptar à região. Para o momento são esperados cerca de 200 agricultores e agricultoras.

Na programação estão previstos debates sobre a convivência com o Semiárido e intercâmbios de experiências de manejo da terra, segurança hídrica e alimentar, geração de renda, preservação ambiental, além de visitas a comunidades rurais.

Por Adriana Amâncio

Fonte: Diaconia (20/04/2011)

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