Seca atinge mais de 200 mil famílias no interior
Dados oficiais do governo do Estado indicam que já são mais de 200 mil o número de famílias que já passam dificuldades por conta da estiagem desse ano. Os mais atingidos residem no semiárido. No Piauí, esta região ocupa uma área de 125.692 quilômetros quadrados, dos 252.378 quilômetros quadrados totais do Estado. São 122 municípios onde mora uma população de 956.617 habitantes.
Oficialmente, 122 municípios fazem parte do semiárido legal, mas já são contabilizados 149 os municípios que decretaram estado de emergência devido à falta de água, principalmente para o consumo humano. Entre os 27 novos municípios que enfrentam o problema, estão Ilha Grande e Cajueiro da Praia, municípios do litoral piauiense. Na zona rural dos dois municípios falta água principalmente para o consumo humano, visto que a água do subsolo é salgada. Característica que se estende também para municípios da região sul, onde a água dos poços tem um teor alto de salinidade e, portanto, imprópria para o consumo.
Para amenizar os problemas, o poder público tem distribuído água através de carros-pipa, cestas básicas, ajuda financeira e sinalizou a realização de um programa de construção de adutoras que deverão abastecer pelo menos 71 municípios do semiárido piauiense.
Na opinião do coordenador do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido (FPCSA), Carlos Humberto, as medidas adotadas pelo governo não resolve o drama dos piauienses que sofrem com a estiagem. “Essa é uma política que vem sendo praticada há décadas e já se comprovou que alivia a situação, mas não resolve e acabam que perpetuando a situação. Colocam como solução do problema a construção de barragens e adutoras que recolherão milhares de litros d’água e distribuirão para as cidades. Mas ainda é uma política excludente, pois não se garante a chegada dessa água para as comunidades rurais que ainda precisam se deslocar vários quilômetros em busca de água”, disse Carlos Humberto.
O semiárido piauiense apresenta grandes potencialidades econômicas e sociais, como solos adequados para diversas práticas agropecuárias adaptadas; boa disponibilidade de água subterrânea e açudes públicos; turismo ecológico, cultural e religioso; diversas práticas artesanais; beneficiamento de frutas. No entanto não há aproveitamento para promoção do bem estar do piauiense.
Para Carlos Humberto, a “Indústria da Seca” tem deixado a população, principalmente a rural, a mercê de políticas paliativas e de “cabresto”. E muitas vezes isso é usado como moeda de troca, condenando a população a uma dependência vergonhosa de cestas básicas e carros-pipa. Faltam políticas públicas eficientes que venham ensinar a população a conviver com a região e a adoção de tecnologias sociais de baixo custo que dê liberdade social e política a essas famílias.
Para tentar amenizar a situação dos que mais sofrem com os efeitos da seca, o Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido (FPCSA), desde 1990, vem trabalhando para com objetivo de discutir políticas de enfrentamento dessa problemática que é uma articulação de organizações da sociedade civil, que atua em prol do desenvolvimento social, econômico, político e cultural do semiárido brasileiro.
Carlos Humberto disse que o Fórum trabalha para uma mudança de concepção do Semiárido como região impossível de se viver e também do falso “combate à seca”, causador da dependência e passividade política. Uma mudança para a “convivência” com as condições climáticas locais, respeitando o ecossistema, visando o desenvolvimento sustentável da região através da cidadania.
Como estratégia de libertação da população do semiárido foi necessário iniciar um trabalho que garantisse água de qualidade para o consumo humano. E continua com a garantia de alimentação adequada para as famílias. Com a criação da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), em 2000, foi deliberado que o Fórum seria a sua instância estadual. Essa integração tem aproximado milhares de famílias da qualidade de vida através de iniciativas como o Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), executados pelas nove entidades que compõem o Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido.
Fonte: Diário do Povo