Gênero e geração de renda – A experiência da Rede de Mulheres com beneficiamento da mandioca
Auto-organização e direito das mulheres
Casa Nova – Bahia
Em Casa Nova, município onde a agricultura irrigada é foco da economia, existe a Rede de Mulheres, que trabalha gênero e geração de renda a partir da economia solidária. Casa Nova fica a 70 quilômetros de Juazeiro, cidade pólo do território do Sertão do São Francisco.
A Rede de Mulheres de Casa Nova e da região surgiu em 2001, a partir do trabalho desenvolvido pela Pastoral da Mulher da Diocese de Juazeiro. Desde o início, a Rede Municipal e Regional tem como objetivo integrar as mulheres para refletirem sobre o cotidiano e seus problemas, conta Marileide Alves da Silva, conhecida por Leda, que atualmente faz parte da coordenação regional da Rede de Mulheres.
A Rede busca melhorar a autoestima, faz esclarecimentos sobre vários assuntos e desperta as mulheres para a produção e geração de renda, complementam Diva Carvalho e Beatriz Araújo, que também fazem parte da coordenação. Beatriz anima e orienta o grupo de produção de alimentos. É ela quem traz a memória de seus antepassados nas receitas, mas sempre dosando com sua criatividade e do grupo. Participa de intercâmbios de experiências em outras cidades e nas comunidades.
Hoje a Rede Municipal tem em torno 25 participantes e atua em 3 localidades do município de Casa Nova: na sede, em São Luiz e em Santana do Sobrado. O grupo vivencia muitas experiências com funções diversificadas. Tem mulheres artesãs, doceiras, pescadoras, agricultoras, professoras e garis.
Em 2006, a Rede sentiu necessidade de trabalhar geração de renda, pois algumas mulheres estavam desempregadas e outras precisando complementar a renda familiar. Logo em seguida, iniciou um trabalho com mulheres interessadas em beneficiamento de frutas nativas e de quintal. Os cursos foram realizados pelo IRPAA – Instituto Regional de Pequena Agricultura Apropriada, e SASOP – Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais.
Beatriz já tinha experiência com beneficiamento de derivados da mandioca e, nesse mesmo período, realizou capacitações com algumas mulheres da Rede que estavam dispostas a desenvolver um trabalho com produção. Com o resultado positivo, até hoje, o grupo continua animado.
Grupo embalando produtos
Atualmente, o grupo de beneficiamento da mandioca é formado por 6 mulheres que atuam na produção de biscoitos doces e salgados; petas, conhecidas em outras regiões por avoadores; sequilhos, também conhecido por ginetes. Tudo feito da tapioca. Recentemente, iniciaram outra linha de produção com bolos e salgados para festas, que só fazem sob encomenda. Ao longo desses 3 anos, mesmo com a renda mensal pequena, é o que tem mantido o grupo estimulado a dar continuidade, conta Beatriz.
A produção é desenvolvida no fundo de quintal, na casa de Beatriz. E por não ter uma infraestrutura, o grupo avalia que o que falta é produto e não mercado. Nas sextas e sábados vendem os produtos na feira que fica no centro da cidade, em Casa Nova, e aos domingos em Santana do Sobrado. Semanalmente abastecem supermercados e mercearias. A renda mensal líquida é em torno de 600 reais, e cada participante recebe por produção.
Para Leda, a atividade que o grupo realiza se interrelaciona com a de pequenos produtores, a partir da matéria prima, a tapioca, formando uma cadeia produtiva que, aos poucos, garante a renda para sobrevivência, fortalece o grupo em rede, resgata a tradição dos produtos da tapioca e valoriza a cultura da mandioca.
Uma das conquistas, afirmada por todas, é fazer parte da Rede Sabor Natural do Sertão, que realiza intercâmbios, integração e fortalecimento entre os grupos da região, facilita capacitações para aperfeiçoamento e reflexões sobre economia solidária, além de viabilizar as vendas e contatos em outros espaços regional e nacional, através de feiras, e comercialização no exterior, em países como Itália e Alemanha.
Os desafios são muitos, é o que afirmam Beatriz, Diva e Leda. Primeiro pela falta de estruturas física e documental, que inviabilizam o grupo participar da merenda escolar do município, através do Programa de Aquisição de Alimento, o PAA. Mas continuam firmes, porque acreditam na linha da economia solidária.