Juntas e fortes: como os grupos de mulheres abriram horizontes para as trabalhadoras rurais

Mais independência, novos conhecimentos e melhor qualidade de vida. Após cinco anos de participação em coletivos feministas, agricultoras vivem mudanças.
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Cinco anos atrás, era cada uma por si. Grande parte das 250 trabalhadoras rurais que hoje integram o Projeto Educação Para a Liberdade vivia isolada em sua rotina, lidando sozinha com as dificuldades que quase toda mulher experimenta ao longo da vida. Sobrecarregadas com o trabalho doméstico, desvalorizadas dentro do ambiente familiar e ignoradas pelos programas sociais, não havia meio de mudar a realidade em que estavam. Situações de violência doméstica também eram fardo que algumas carregavam em silêncio dentro de suas casas, quando sentiam-se inferiorizadas pelas agressões verbais de seus companheiros e familiares.

No início, quando aceitaram participar deste projeto social do Esplar em apoio às trabalhadoras rurais, elas tomaram a primeira atitude que traria a elas uma nova forma de pensar e de agir.

Nos dias em que estas mães, avós e esposas pausavam o trabalho doméstico para participar da reunião do grupo de mulheres de sua comunidade, elas compartilhavam inquietações e aprendiam sobre questões que influenciam diretamente suas vidas. Convivência com o Semiárido, economia solidária, políticas públicas para as mulheres, combate à violência contra as mulheres, organização comunitária, entre outros temas, foram apresentados de forma participativa e acessível a todas.

Hoje, estas mesmas 250 agricultoras abraçaram a missão coletiva de lutar pela inserção social na sua região e se apresentam de outra maneira, elas são: “Mulheres Revolucionárias; Mulheres Vencedoras; Negras que Lutam no Semiárido, Margaridas em Ação”, nomes de alguns dos 14 grupos de mulheres assessorado pelo Esplar nos últimos anos.

Juntas, elas participaram de intercâmbios, seminários, algumas estiveram em Brasília na Marcha das Margaridas, maior manifestação feminista do País. Também levaram seus produtos para feiras da agricultura familiar, onde venderam as hortaliças, legumes e frutas de seus quintais e o artesanato em crochê que confeccionam . “Se não tivéssemos acreditado que a participação da mulher é válida, não teríamos saído do canto”, afirma Raimunda Lima Lopes, agricultora de 59 anos integrante parte do Grupo de Mulheres Agricultoras Assentadas no Morro Agudo – SEMEAR.

Monsenhor Tabosa, Tamboril e Nova Russas, cidades onde estas mulheres moram, têm baixo Índice de Desenvolvimento Humano, de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, documento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA). Lá, as pessoas tem pouco acesso ao conhecimento, baixa renda e expectativa de vida. O Esplar, em parceria com a Fundação italiana We World, escolheu apoiar as mulheres e crianças dessas regiões, por entender que são ainda mais vulneráveis à pobreza.

Todas as ações, ao longo de cinco anos, buscaram orientar as trabalhadoras rurais a acessar políticas públicas, participar das decisões de sua comunidade nos sindicatos e associações, conhecer as leis que protegem suas vidas e seus direitos, trabalhar em grupo de forma cooperativa e solidária e cultivar seus quintais para alimentar a família e para vender.

“Vida, formação e trabalho, em cada parte destas nós crescemos um pouco. Não somos mulheres de ficar em casa oprimidas, somos agricultoras organizadas! Sabemos valorizar o nosso trabalho. Mulher tem vida, proposta e força de agir”, diz Antônia de Maria Carvalho Lima, do Grupo Semear, Mulheres Assentadas do Morro Agudo.

Na comunidade Lagoa do Norte, a agricultora Francisca Maria Viana viu surgirem novos hábitos entre as integrantes do seu grupo, Mulheres Vencedoras. As visitas das educadoras do Esplar aos quintais de cada uma e as orientações sobre plantio agroecológico, uso de adubos e defensivos naturais e técnicas de fortalecimento das plantas transformou os terreiros em áreas férteis para a produção de alimentos, de onde saem frutas verduras e legumes orgânicos para as refeições da família.“Todo mundo já consome produtos do seu quintal, Todas aprenderam essa lição”, percebe.

Com as formações sobre a violência machista, o que antes era suportado como uma sina nos relacionamentos, passou a ser visto como crime, que pode e deve ser punido. “Muda a autoestima da gente com a oficina sobre a Lei Maria da Penha e o grupo de mulheres serve para perder o medo. Agora eu sei que tem uma lei que me protege”, afirma Antônia Lídia de Carvalho, integrante do Grupo Abelhas Lutadoras do Sertão, na comunidade de Irapuá, em Nova Russas. Para Ivoneide Martins Farias Pereira, do Grupo Margaridas em Ação, em Lagedo Grande, hoje há um cuidado com a vida das companheiras. “Saber sobre a violência contra a mulher deixa a gente mais forte e quando a gente vê violência na comunidade, fala mesmo!”

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