Visitas de Intercâmbios marcam o primeiro dia do Festival das Sementes da Fartura do PI
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Uma das dinâmicas adotadas nos Festivais da Semente da Fartura do Piauí nas suas três edições é o intercâmbio de experiências. Eles se somam à feira na dinâmica de troca e compartilhamento de vivências, práticas e saberes entre os agricultores e agricultoras das diversas regiões do Piauí, que se encontram no festival. Na tarde da última quinta-feira (27) quatro experiências de produções agroecológicas em Pedro II, local que sedia o III Festival das Sementes da Fartura do Piauí, receberam as centenas de agricultores e agricultoras que vieram participar do evento.
Intercâmbio EcoEscola Tomas a Kempis – Uma das experiências visitadas foi Ecoescola Thomas a Kempis. Agricultores/as das regiões de São Raimundo Nonato e Oeiras conheceram neste intercâmbio a produção agroecológica sustentável e o modelo de educação contextualizada para o Semiárido desenvolvida pela escola. Durante três horas os agricultores/as puderam conhecer as áreas local, sua metodologia de ensino contextualizado e o mais importante, puderam conversar e trocar conhecimentos.
O Edivaldo Marques da comunidade Quilombola Lagoa das Emas, município de São Raimundo Nonato é um dos participantes e falou que o modelo de educação aplicado nesta escola é muito rico porque trabalha realidade local; “Aqui eu vejo que a escola é voltada para o meio em que ela estar inserida porque geralmente as escolas apresentam temas que não são da nossa realidade” disse Edivaldo. Segundo a Direção da Ecoescola um dos pontos de riqueza nesta instituição de ensino é o fato de ter em seu mesmo campo estrutural a produção agroecológica e educação contextualizada sendo desenvolvidas para e com os filhas e filhas das famílias agricultoras desta região.
Intercâmbio Barro dos Lopes – A visita de 55 agricultores provenientes dos municípios de Campo Grande, Vila Nova e Ipiranga do Piauí foi realizado no sitio do Seu Oliveira e Dona Conceição no povoado Barro dos Lopes com destaque para a produção da roça orgânica e horta sombreada.
Dona Kátia Joana, agricultora de Campo Grande ficou impressionada com a experiência da roça coberta de folhas e restos de vegetação que produz hoje, oito sacos de milho e dois de feijão em um pedaço de chão de 25 metros quadrados. “Eu quero ter a coragem de fazer essa roça que não queima e que produz de forma limpa”, afirma a agricultora.
Intercâmbio comunidade Cabral – Feijão-biló, feijão-aparecida, feijão-piauí, feijão-coruja, milho branco, andu são algumas das variedades de sementes que fazem parte do estoque e da vida das famílias agricultoras eu moram na comunidade Cabral. Lá a banco comunitário de sementes guarda a riqueza e a certeza de que no ano vindouro haverá Sementes da Fartura, para plantar no cair das primeiras chuvas.
O casal Seu Antônio Zeferino e Dona Francisca Francinete são guardiões de sementes e foram eles que receberam um grupo formado por cerca de 50 agricultores familiares de municípios do sul do estado e estudantes do curso de agropecuária que foram conferir de perto a experiência.
“A semente é nossa vida, a água e a semente. Antigamente quando a gente não tinha mais semente pra comer a gente comia a de plantar, mas depois a gente podia pegar emprestado a um vizinho que não tinha híbrido e nem transgênico, mas agora com o agronegócio a gente precisa ter cuidado para eles não acabarem com a nossa semente”, alerta seu Zeferino.
Dona Francisca, por sua vez, além das sementes da produção explicou a importância de se guardar sementes e plantas que curam enfermidades, a exemplo da semente de abóbora e girassol. “É importante tá com ela [semente] guardada porque ninguém sabe a hora que a pessoa adoece, se é do dia ou se é da noite”, explica.
Intercâmbio comunidade Cipó – Cerca de 60 agricultores e agricultoras dos municípios de Picos, Jaicós, Teresina e Padre Marcos visitaram a comunidade Cipó para conhecer as experiências comunitárias das famílias da localidade. Recebidos na sede da associação, os visitantes conheceram as conquistas coletivas alcançadas a partir de ações conjuntas dos moradores “a comunidade só cresce através da cooperação, aqui nós construímos nossa sede, o campo de futebol, a casa de sementes, colocamos energia solar no cemitério, conseguimos internet e várias outras coisas porque a comunidade entende que a união é necessário para as conquistas em comum”, explicou Geovane José, da associação.
Após a conversa, os participantes visitaram a casa de semente comunitária e o bonito quintal que gera uma boa renda para o sustento da família de cinco moradores da comunidade. Além de ser fonte de alimento, o sistema do projeto PAIS (Produção Agroecológica Integrada Sustentável) contribui para aumentar a renda das famílias, já que economiza água, utiliza tecnologias simples e de baixo custo, trabalha com uma boa diversidade de plantas, aproveita melhor o espaço da propriedade, usa apenas fertilizantes orgânicos e poupa o solo, fazendo com que as famílias tenham maiores possibilidades para se desenvolver economicamente.
O agricultor José Raimundo do município de Padre Marcos elogiou a organização da comunidade e destacou o individualismo que dificulta o desenvolvimento conjunto de algumas comunidades. “Acho importante o que você fala sobre coletivo, porque só assim se consegue as coisas, a gente ver nas comunidades muito individualismo, as pessoas não querem se juntar e a gente vem aqui e ouve você, abre a nossa mente pra essas coisas”, disse ele.
O Festival das Sementes da Fartura – O Festival das Sementes da Fartura do Piauí reúne agricultores e agricultoras de todo o Estado para a troca e comercialização de sementes nativas da agricultura familiar de base agroecológica. Em sua terceira edição, o Festival atrai um público aproximado de 800 pessoas entre agricultores e agricultoras familiares, técnicos, representantes de ONGs e de órgãos de pesquisa do Governo. O evento acontece na quinta (27) com a realização de Intercâmbios e na sexta (28) com a realização da feira de sementes na Praça da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição.
O evento tem a realização do Fórum Piauiense de Convivência com o Semiárido – FPCSA, coletivo que reúne 16 organizações do Piauí que trabalham ações de Convivência com o Semiárido e conta com o apoio da Articulação Semiárido Brasileiro, Banco do Nordeste, Ministério da Agricultura e Governos Federal, Estadual e Municipal.