Pra perceber as transformações sociais do Semiárido, uma conversa com quem vive no campo

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A população rural do Semiárido brasileiro – região que concentra os menores Índices de Desenvolvimento Humano do país – apresenta fortes marcas da ausência ou presença do Estado nas suas vidas. Basta uma conversa mais demorada com um/a agricultor/a com mais de 50 anos para perceber mudanças significativas em importantes dimensões da vida.

Seu Francisco Bernardo Pereira mora no município de Nova Olinda, no Sertão do Cariri cearense. Com 63 anos, a infância de Seu Francisco foi vivida numa época em que estudar era uma realidade distante. Muito mais do que nos dias atuais, quando 14 mil escolas rurais foram fechadas de 2002 a 2009 só na região Nordeste.

“Pedi [pra ir pra escola] três vezes ao meu pai. Não ia pedir a quarta. Nunca desobedeci a meu pai. Hoje, não desafio a mulher, nem os meus filhos. Ia passar por cima do meu pai? Meu pai dizia que estudar era coisa de malandro”, lembra ele com os olhos úmidos. Hoje, o filho mais novo, Antônio Carlos, com 16 anos, está terminando o ensino médio com total apoio do pai para os estudos.

Há 42 anos, casou com dona Lourdes e trouxeram ao mundo 18 filhos. Destes, só um pouco mais da metade (11) sobreviveu. Os que nasceram antes morreram mais do que os mais novos. A diferença entre os dois momentos era a presença de agentes de saúde na comunidade.

Segurança alimentar – Em Nova Olinda, a média pluviométrica é de mais de 682 mm, que entre as maiores do Semiárido. Esse ano choveu 450 mm. Sinais da estiagem que alcançou a região desde 2012 e ainda paira por lá. Mesmo assim, há um ano, Seu Francisco aumentou a produção de alimentos sem usar um pingo de veneno e começou a participar da feira agroecológica em Nova Olinda. Todos os sábados, um dos filhos é quem vai vender na feira. Ele leva o jerimum, pimenta, alface, coentro, cebolinha, couve, galinha e frango para os clientes. “Se não levar pra feira, também vendo na comunidade que tem 170 moradores”, assegura seu Francisco.

Um dos seus orgulhos é ter todos os filhos dedicados à lida na agricultura, um feito raro entre as famílias do campo, diante da migração dos jovens para os grandes centros urbanos por causa da concentração da terra e de políticas públicas que garantam condições de permanência da juventude no espaço rural.

Desde que começou a participar dos intercâmbios entre agricultores/as promovidos pela Associação Cristã de Base (ACB), que faz parte da ASA, Seu Francisco, não perde uma oportunidade de participar de todos os encontros e intercâmbios para os quais é chamado. Na primeira semana deste mês, ele era um dos 300 agricultores e agricultoras de todos os estados que aportaram em Aracaju pra participar do IV Encontro de Agricultores e Agricultoras Experimentadoras.

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