100 anos da “Seca do 15” e as perspectivas atuais
Há 100 anos o Ceará passava por uma das maiores secas da história. A “Seca do 15” acentuou um quadro de migração desenfreada, epidemias, fome, sede, miséria.
No auge da Fortaleza “Belle Époque”, o governo do Ceará criou campos de concentração para impedir a migração dos sertanejos, promovendo uma política de higienização no Estado. O primeiro deles foi instalado no Alagadiço, zona oeste de Fortaleza. Para serem atraídos, promessas de trabalho, comida e assistência médica eram ofertas pelo governo. Porém, ao serem submetidos a tais condições, os sertanejos eram confinados e não podiam sair sem autorização, estando expostos à fome e a doenças.
Em 1932, outra estiagem iria devastar o semiárido nordestino. Foi nessa época que se tornou conhecida a “indústria da seca”, quando as oligarquias econômicas e políticas da região usavam recursos do governo em benefício próprio, com o pretexto de combater as mazelas do fenômeno climático. Estima-se que 73 mil sertanejos foram confinados novamente em campos de concentração, situados no Crato, Ipu, Quixeramobim, Senador Pompeu, Cariús e na Capital. Nestes locais, a fome e a falta de higiene provocaram um quadro ainda mais trágico. Outras estiagens atingiriam o Nordeste nas décadas seguintes, sendo uma das mais abrangentes a que teve início em 1979 e durou quase cinco anos.
As novas perspectivas – Ao todo são 11 estados incluídos no semiárido brasileiro. É nesse contexto que há cerca de 15 anos atua a Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), rede da qual a Obas faz parte.
Levando em conta o seu dinamismo, o semiárido brasileiro remete sobre as possibilidades de desenvolvimento que considere as especificidades e as características socioeconômicas e ambientais da região.
Em sua atuação, a Obas e a ASA agem para potencializar os interesses de agricultores e agricultoras sobre o uso sustentável dos recursos naturais e o acesso a água, a terra, e aos diversos meios de produção, promovendo o desenvolvimento sustentável entre os povos, respeitando suas culturas e modos de viver.
O conceito de “combate à seca” e aos seus efeitos, que predominou durante quase todo o século XX, foi superado, tendo em vista que os seus fundamentos negavam os princípios da sustentabilidade. Em seu lugar, surgiu uma modernização econômica e tecnológica que incluiu a questão ambiental e deu uma maior atenção ao social, interpretando a sustentabilidade como a durabilidade do desenvolvimento, baseando-se na eficiência tecnológica, racionalidade e autonomia produtiva. Assim, a “convivência com o semiárido” vem se caracterizando como uma perspectiva orientadora de um desenvolvimento que tem por finalidade a melhoria da qualidade de vida, por meio de iniciativas socioeconômicas e tecnológicas apropriadas, e a valorização e visibilidade da mulher e da juventude no campo.