Feminismo no comando: captação de água da chuva, mobilização e organização popular no semiárido

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O protagonismo das mulheres é a marca de atuação do CF8 | Foto: Arquivo CF8

O Centro Feminista comemora junto as mais de 90 comunidades dos municípios de Itaú, Rodolfo Fernandes, Tabuleiro Grande e Patu, as 320 implementações de tecnologias para captação da água de chuva: Água para produzir alimentos e colher autonomia, soberania alimentar, auto organização, feminismo, agroeocologia… Muitos mais sorrisos e muito mais vida Semiárido adentro.

O programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), com o apoio do BNDES, executado pelo Centro Feminista contou com uma equipe composta por 8 mulheres (sim, não há homens) no comando não só da construção de 145 Cisternas calçadões, 144 Cisternas enxurradas e 31 Barreiros-trincheiras, mas também na mobilização e na organização popular por um Semiárido com mais oportunidade e igualdade para mulheres e homens.

“Como o feminismo pode estar dentro de um trabalho como este?”. A pergunta desafio esteve em todo o desenvolvimento do projeto. Desde priorizar os nomes das mulheres como beneficiárias do programa, à promoção da recreação com as crianças para que as mães pudessem participar das atividades de formação, à preocupação em trabalhar a questão de gênero e divisão sexual do trabalho em todos os GAPAS e visibilizar o protagonismo das mulheres no semiárido potiguar, desconstruindo tabus, como nas sistematizações de experiências mostrando o trabalho e a luta das cisterneiras, agricultoras, artesãs e também da auto organização das mulheres.

O estímulo à capacitação de cisterneiras com a construção de cisternas por mulheres encontrou “trabalho de homem”, mas foi uma experiência que quebrou muitos preconceitos.

Outros pontos positivos no processo que podem ser elencados foram: a relação de respeito e reconhecimento na conquista dos cisterneiros e cisterneiras, fornecedores e das famílias, o trabalho conjunto com as Comissões Executoras Municipais (CEM), os intercâmbios intermunicipais e interestaduais, e a integração com as ações dos movimentos de lutas do território com intercâmbios e debates sobre a disputa do território da Chapada do Apodi potiguar pelo agroengócio, debates sobre outros conflitos nos territórios de trabalho.

Maria de Jesus, do Projeto de Assentamento (PA) Paraná, em Itaú, agricultora beneficiária do programa e integrante da CEM, diz que: “quando a gente passa pelas secas fica impossível de plantar, criar os bichos… Uma dificuldade triste! Mas com essas cisternas a gente pode guardar água e garantir produção e isso é alegria demais pra gente!”.

Participando de uma das últimas atividades, o Encontro Territorial que o Centro Feminista realizou apenas com as mulheres das microrregiões por onde trabalhou, Sandra da Silva, da comunidade Quilombola de Jatobá, afirmou que: “esse projeto mexeu com a vida da gente de um jeito… Não só pelas cisternas e barreiros porque agora a gente vai ter água e já tá tendo, mas porque a gente sente que é importante, porque a gente aprendeu muito, viajamos pra outros lugares, conhecemos mais pessoas, mulheres que nem a gente. Queremos continuar o movimento”, sorri.

Lindinalva Martins, animadora de campo, fala com a sensação do dever cumprido: “acredito que a experiência com o P1+2, através do CF8, foi um momento único em minha vida. Com uma equipe composta somente por mulheres, enfrentamos o machismo de todo dia e mostramos o quanto somos capazes. Sou grata pela transformação não só na minha vida e de toda a equipe porque saímos fortalecidas assim como também as famílias, as mulheres e a luta por um semiárido de mais oportunidade e igualdade”.

Conceição Dantas, da coordenação do Centro Feminista explica que: “Esse projeto foi desafiador. Cada instituição tem uma cultura política, o CF8 tem a sua, e mesmo com a adversidade, colocamos singularidades nossas na execução desse projeto. O enfrentamento do agronegócio no território, o fortalecimento da agroecologia e as discussões sobre as relações de poder entre homens e mulheres no semiárido foram tarefas constantes”. E continua: “Transformar o Candeeiro [boletim de sistematização de experiências da ASA] em rostos de mulheres, com certeza ajudou numa nova leitura e imagem da mulher do semiárido. A construção de relações com os cisterneiros e cisterneiras considerando-os como sujeito do processo contribuiu para elevar a consciência crítica desse setor tão importante na execução. A recreação [com crianças, filhos e filhas das mulheres] para facilitar a participação das mulheres, a entrega dos caráteres produtivos às mulheres, considerando-as como legítimas das famílias, tudo isso foi fundamental para que junto com a execução a missão do cf8 se fizesse presente. Com certeza, hoje, nós estamos sorrindo junto com o Semiárido.”.

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