Fórum Microrregional da Ibiapaba avalia os impactos dos grandes projetos que chegam à região
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Direito à terra, enfrentamento e resistência aos grandes negócios foram debatidos em encontro | Foto: Karol Dias/Arquivo Espaf |
O município de Granja/CE acolheu o Fórum Microrregional de Convivência com o Semiárido (FMCSA) no último dia 29, em um encontro que discutiu os impactos dos grandes projetos na vida da população. O painel de discussões fez uma leitura desse modelo de desenvolvimento que se baseia apenas no lucro e desrespeita totalmente os direitos humanos.
No início, houve o lançamento do boletim O Candeeiro com o título “A terra como um direito” que trata de um conflito agrário acontecido na comunidade Lagoa do Américo em Carnaubal/CE, desde setembro de 2013, com direito à demolição de seis casas residenciais e uma casa de farinha, ocasionado pelo interesse em instalar torres de energia eólica no local.
Logo após, Maria Reis e João Batista que integram a Associação Comunitária dos Moradores de Tatajuba (ACOMOTA), falaram do enfrentamento e resistência ao avanço de grandes empresas sobre seu território, no litoral de Camocim/CE.
Citaram problemas como a grilagem de terras, os grandes empreendimentos turísticos e imobiliários, a construção de parques de energia eólica, os projetos de carcinicultura e as graves consequências que acarretam pelo massacre, expulsão, agressão física e assassinato de pessoas, o envenenamento no uso de produtos químicos em camarões de cativeiro, a exploração das riquezas naturais e destruição da biodiversidade.
O turismo comunitário é uma das alternativas que desenvolvem para fortalecer sua luta, com apoio do Instituto Terramar.
André Wilson e Angelaine Alves, da Escola de Formação Política e Cidadania (ESPAF), fizeram uma reflexão sobre os prejuízos ambientais e sociais ocasionados pela implantação de parques eólicos na Serra da Ibiapaba que vem expropriando famílias, demolindo casas, expulsando animais selvagens, interferindo no fluxo dos lençóis freáticos, entre muitos outros.
O assentado Raimundo Paulo, também participou contando a história de luta pela terra e desapropriação da área hoje conhecida como Jabuti, em Granja/CE. Segundo ele, a partir de um curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH) em 2005, através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC), teve início a tomada de consciência e a organização pela defesa do direito à terra onde já moravam. A posse veio em 2010, sob ameaças de morte, pressão psicológica e corrupção de lideranças. Esse é também um desafio a ser enfrentado.
A plenária refletiu sobre as questões apresentadas e propôs encaminhamentos para fortalecer a articulação e resistência frente às investidas do capital devastando territórios e a vida da população. O primeiro passo será realizar intercâmbios entre as comunidades impactadas pelos grandes projetos, a fim de partilhar experiências e trabalhar a conscientização das pessoas.
O momento foi ainda de planejamento do próximo encontro com a temática que será discutida, de socialização da experiência da Bodega do Povo como espaço de comercialização de produtos orgânicos em Viçosa do Ceará, de lançamento do boletim O Candeeiro com o tema: “Mandala: A ciranda do saber animando a prática do bem viver” e do banner “EFA Ibiapaba revolucionando a educação do campo”.
No encerramento do encontro, um abraço coletivo e o refrão “eu acredito que o mundo será melhor, quando o menor que padece acreditar no menor”, reafirmaram o compromisso com a causa e com a unidade que é preciso ter enquanto Fórum.