Lutar pela Água e para a Vida

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Mobilização do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais, alerta sobre perigos de mineroduto. | Foto: Giovana Prates

Água vale mais que minério. Com esse lema a cidade de Coronel Murta, no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, através da Associação Beneficente de Itaporé (Abita) recebeu a visita, no dia 02 de junho, de muitas organizações e movimentos sociais que atuam no Vale, como os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, Rede Cáritas, Pastoral do Migrante, Comissão Pastoral da Terra, Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), dentre outras, para debater as relações entre os processos minerários e as propostas de uma reforma política popular.

Esse debate é uma das ações organizadas pelos Comitês Regionais do Plebiscito Constituinte e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) para alertar a população dos perigos por trás da vinda do mineroduto que vai utilizar a água do Rio Jequitinhonha para transportar minérios de Grão Mogol, em Minas Gerais, para Ilhéus, na Bahia. Um trajeto de mais de 400km,  que consumirá  mais de 970 litros de água por segundo num período de 25 anos.

Para Aline Ruas, representante do MAB, a vinda do mineroduto é fruto de vários interesses econômicos e políticos entre grandes mineradoras (Sul-Americana de Metais-SAM e Votorantim) e o governo de Minas, que classificou o projeto do mineroduto como de utilidade pública.  “Esse mineroduto faz parte do Bloco 8, um grande projeto de exploração de minério no Norte de Minas e Vale do Jequitinhonha. Isso gera muita revolta porque a água não é utilizada para a agricultura familiar ou para produção de alimentos,  mas vai beneficiar  o interesse dessas grandes mineradoras e traz com isso impactos ambientais e sociais”. Ainda de acordo com Aline, o processo, que traz mão-de-obra de fora, favorecerá a exploração sexual, o aumento populacional, a degradação ambiental, a criação de crateras, a desapropriação de terras e, consequente, a perda de identidade e cultura das populações atingidas.

O debate, que trouxe também como pauta o Plebiscito Popular do Sistema Político, provocou a reflexão sobre a importância da água e de como o seu manejo pode significar vida ou morte, dependendo que quem a utiliza e para quais fins. Momento em que muitos agricultores familiares se colocaram a favor da preservação da água e da vida. Foi exibido um vídeo sobre os impactos desastrosos causados pelo mineroduto Minas-Rio, da Anglo American,  em Conceição do Mato  Dentro – MG e em algumas cidades do estado do Rio de Janeiro.

Lideranças comunitárias, representantes e dirigentes das organizações, alunos e professores de Escolas Estaduais e da UFVJM, presentes, expressaram repúdio a esse projeto do Mineroduto.  Cirinéia Alves Jardim, aluna da Escola Estadual Cel. Mariano Murta, diz que o Vale do Jequitinhonha tem esse nome, em função do Rio Jequitinhonha, que atravessa Minas Gerais e vai até o mar na Bahia. Para ela “o Vale depende desse rio para sua sobrevivência e com a vinda do mineroduto temos ameaçado esse bem precioso, nós estudantes precisamos nos organizar e impedir que isso aconteça”. O agricultor familiar Sebastião do Nascimento da comunidade Laje em Coronel Murta avalia que “esse mineroduto é ruim e só vai trazer mais tristeza pra nós. A gente já sofre com essa barragem e agora vem isso?”. E para “Cidona”, do Movimento Sem Terra no Baixo Jequitinhonha, “o mineroduto é uma droga. Nós do Jequitinhonha não podemos aceitar que as nossas poucas águas possam ir para outro estado. Não aceitamos a exploração do minério, muitos menos o mineroduto. Vamos nos formar, nos articular e gritar queremos Terra, Água e Educação, mineroduto, não”, conclui.

A plenária presente no debate, informada e sensibilizada pela ameaça do uso das águas do Jequitinhonha pelas mineradoras, elaborou uma carta-documento a ser entregue à Comissão das Águas–MG, presidida pelo deputado estadual Almir Paraca, reivindicando demandas sociais levantadas no encontro.

Em ato público pelas ruas e praças de Coronel Murta, instituições, escolas, movimentos sociais, agricultores, agricultoras, assessores parlamentares, grupos de mulheres e muitos jovens mostraram faixas e cartazes contrários ao mineroduto. Músicas e muitos gritos de ordem foram ditos e cantados. A população foi aderindo ao ato e já às margens do Jequitinhonha foi possível, apesar da falta de energia elétrica que impediu o uso de microfones, ouvir e registrar o compromisso assumido com a população do Vale do Jequitinhonha pelo deputado estadual Rogério Correia e pelo deputado federal Padre João, de fazer uma audiência na Câmara Federal com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e a Agência Nacional das Águas (ANA) para não consentir licenças para implantação do mineroduto. 

Compromissos firmados, e ainda sob animação do Levante Popular, deu-se o encerramento do ato público com a certeza de que a luta pela vida e preservação das águas do Jequitinhonha está apenas no começo, haja vista a necessidade de organizar mais momentos como este, para garantir que a sociedade fique de fato informada e consciente de promover mudanças a partir da participação popular.

 

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