Capacitação de pedreiros: a conquista de tecnologias e a transformação social no Semiárido
Construindo tecnologias, transformando o Semiárido. | Foto: Cleidiane Nogueira |
Entre os dias 20 a 29 de maio na comunidade de Baixão, município de Botuporã, na Bahia, aconteceu o curso de pedreiros para a construção de cisternas-enxurrada. A capacitação foi marcada pela troca de experiências entre os pedreiros, além de propiciar a formação política desses sujeitos para a convivência com o Semiárido, tendo em vista que os pedreiros são atores fundamentais no processo de mobilização social da ASA [Articulação Semiárido Brasileiro] e estes precisam se apropriar do seu papel na construção das tecnologias sociais.
Aprendizagem, experiência, resistência, conhecimento, união, cooperação, parceria, oportunidades, mobilização, convivência e acolhimento. Essas palavras evidenciaram uma visão diferente do Semiárido construída por homens e mulheres do campo que lutam por melhores condições de vida no Sertão.
É assim que Olímpio, também conhecido como Netinho da comunidade de Baixão expressa sua alegria ao falar do Semiárido. “Para mim o Semiárido representa um paraíso, eu moro aqui e gosto daqui, paraíso porque eu já sai daqui e sei o quanto a gente sofre lá fora, muito mais do que aqui. Com esse curso espero adquirir mais conhecimento pra aprender e passar para as outras pessoas”, conclui o agricultor e pedreiro.
A formação durante o curso de pedreiros fortalece as ações de convivência com o Semiárido, visto que a articulação e o trabalho coletivo desses sujeitos contribuem com uma causa social. Não é apenas ser pedreiro e construir cisternas, é construir sonhos e transformar a vida das famílias do Semiárido.
Para o pedreiro José Mariano que estava contribuindo com o curso, “a cisterna é uma coisa muito importante, há muitos anos eu aprendi e estou aqui passando para os outros que vão seguir essa caminhada, não só da construção de cisternas, mas do conhecimento do trabalho porque aqui nesse curso além de aprender a construir as cisternas tem o aprendizado da convivência com as famílias”, afirma.
Nessa perspectiva, a união faz a força e os sujeitos envolvidos no processo de construção das tecnologias espalham conhecimento e alegria pelo sertão. “O principal nos cursos não é só o conhecimento e o desenvolvimento da pessoa como pedreiro, mas sim o conhecimento que isso traz para as famílias, dando dignidade para elas se sentirem livres de muitas coisas que as prendem. A gente precisa dar liberdade para as famílias escolherem o que quer da vida, é isso que a gente prega e tenta levar para as comunidades”, diz Raimundo animador de campo que já atuou como pedreiro da ASA.
Dessa forma, além de construir cisterna para garantir às famílias segurança e soberania alimentar, o curso evidenciou reflexões importantes sobre o papel do pedreiro na construção das tecnologias sociais de captação e armazenamento de água da chuva. “Eu tenho orgulho do trabalho que eu faço, pra mim é muito interessante construir as cisternas”, declarou José Luiz, pedreiro instrutor do curso.
Sendo assim, o Programa Uma Terra e Duas Águas – P1+2, fruto da parceria com a Fundação Banco do Brasil vem fortalecendo a formação e a mobilização social para convivência com o Semiárido, pois como afirma o coordenador da ASA – Naidson Quintela, “o que falta ao Semiárido são políticas adequadas não de combate à seca, mas de convivência com o Semiárido”. E é essa proposta que defendemos no processo de conquista das tecnologias que visa sobretudo a transformação social.