Caravana Agroecológica e Cultural do Ceará inicia em Itapipoca
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“Já posso respirar e voltar a plantar/ A terra renascendo brotando sem parar/ Na agroecologia e agricultura familiar/ Com organização e resistência popular…”. (Xote Agroecológico)
O “Xote Agroecológico” é uma versão do Xote Ecológico de Luiz Gonzaga e foi uma das músicas que animaram o início da Caravana Agroecológica e Cultural do Ceará nesta segunda, 28, no Centro de Treinamento Diocesano de Itapipoca – CETREDI. A Caravana que é preparatória para o III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA) conta com a participação de agricultoras/es e técnicas/os vindas/os de vários municípios do Estado.
A mística de abertura do evento apresentou de forma teatral o cordel “A caneta e a enxada” do poeta João Lourenço e também uma “mandala” feita com sementes.
Em seguida, foi composta uma mesa com representantes da Rede de Agricultoras/es Agroecológicas/os de Itapipoca, Centro de Estudos e Apoio ao/a Trabalhador/a (CETRA), Fórum Cearense Pela Vida no Semiárido (FCVSA), Instituto Terramar, Núcleo Trabalho, Meio Ambiente e Saúde (TRAMAS) e do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Social e Comunitário (CADESC), que dialogou sobre a Agroecologia, o sistema de produção capitalista e destrutivo que nos ameaça e a importância desses momentos onde há partilha de conhecimentos e experiências.
Após as falas, Neila Ferreira do CETRA caracterizou o território Vales do Curu e Aracatiaçú, onde estamos, e, tratou dos objetivos da Caravana questionando aos/às presentes: Porque interessa a sociedade apoiar a agroecologia?
“Comida saudável”, “fortalecer a agricultura familiar”, “sobrevivência” e contrapor “ao modelo que exclui as pessoas incentivando a competitividade e o consumo”, foram algumas das respostas vindas da plenária.
À tarde, um painel de discussões tratou da “Agroecologia e as ameaças dos grandes projetos à agricultura familiar agroecológica”. Andrea Camurça do Núcleo Tramas começou explicando como esses grandes projetos “bloqueiam ou restringem o desenvolvimento da agricultura” à medida que cresce a disputa por terra e território.
Rogéria Rodrigues, do Instituto Terramar, citou quatro grandes projetos de desenvolvimento para a zona costeira do Ceará que nas últimas décadas tem prejudicado enormemente sua população: o complexo portuário do Pecém, a carcinicultura, o turismo e as torres de energia eólica, “tem sido muito cruel para as comunidades, quando não são transferidas são logo expulsas, e tem também a exploração sexual…”, afirma.
Na sequência, Luís Eduardo do CETRA, apresentou o resultado de um estudo realizado em oito territórios onde foi possível constatar que muitos “agricultores trabalham na contramão da política dominante que é o agronegócio” produzindo com diversidade, independência dos insumos externos, desenvolvendo redes locais, fundos rotativos solidários, bancos e casas de sementes e, fortalecendo o debate político.
O agricultor Aderbaldo e a agricultora Dalvinha, da Rede de Agricultoras/es Experimentadoras/es de Itapipoca ,relataram suas experiências nessa organização. “Nós melhoramos em renda, em conhecimentos, melhoramos na saúde e conseguimos dar uma melhorada nesse território”, conta Aderbaldo. Já Dalvinha fala de como cuida da terra, alimenta a saúde e cultiva o futuro inspirada no lema do III ENA.
A tarde encerrou com debate sobre as questões apresentadas, encaminhamentos para as visitas de campo que acontecem na terça, 29, e a noite foi de animação com apresentação cultural do grupo de Reisado do Assentamento Maceió.