Atividade na Escola Família Agrícola Chico Antonio Bié discute relações de gênero
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Encontro discutiu relações de gênero a partir do corpo | Foto: Karol Dias/Arquivo ESPAF |
Lutar por uma educação no campo onde o conhecimento se dê de forma contextualizada com a realidade é acreditar no potencial transformador que ela tem de tornar esse espaço mais sustentável e digno de viver, valorizando os saberes populares, a organização comunitária, as técnicas que favorecem o trabalho produtivo e, também, a construção de relações mais igualitárias entre os gêneros.
Pensando nesse último, um serão acontecido no último dia 10 na Escola Família Agrícola Chico Antonio Bié, em Tianguá (CE), discutiu as desigualdades de gênero em nossa sociedade a partir do corpo. Liliane Carvalho, ativista do MIM (Movimento Ibiapabano de Mulheres) e comunicadora popular da ESPAF (Escola de Formação Política e Cidadania), esteve conduzindo a reflexão com as/os educandas/os.
Para início de conversa sugeriu que cada um/a desenhasse seu próprio corpo em uma folha de papel e, como resultado, apenas dois desenhos não estavam vestidos. Esse olhar suscitou questionamentos para a forma como nos mostramos e evidenciou a diferença de comportamento e valor determinado para mulheres e homens, conforme os padrões.
Essa concepção da necessidade de usar vestimentas recai com maior imposição sobre as mulheres desde a infância, tendo em vista que os meninos são incentivados a se mostrar e as meninas a se vestir. Isso prevalece na idade adulta quando, por exemplo, homens podem andar sem camisa ao sentir calor e as mulheres não. Lembrou também que no Brasil, antes da invasão europeia, quando as populações indígenas moravam livremente não tinham essa preocupação em se cobrir.
Todas essas questões levantadas serviram de base para tratar de um assunto em evidência nas últimas semanas, a pesquisa do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) que trouxe como resultado um dado lamentável: boa parcela da população acredita que mulheres que usam roupas curtas merecem ser atacadas/estupradas.
Dialogando com a turma sobre isso, Liliane esclarece que há uma grande hipocrisia na sociedade, pois, ao mesmo tempo em que ela exige que a mulher ande “bem vestida e coberta, também aprecia o corpo da mulher, a beleza da mulher e quer se utilizar disso” na publicidade para vender produtos ou atrair audiência para as emissoras de televisão, nos desfiles de escolas de samba. Sempre que o corpo da mulher for associado a um bem de consumo, sua nudez é aceita e apreciada, mas essa mesma sociedade “não aceita que as mulheres decidam quando elas querem usar ou tirar sua roupa” entrando assim, em contradição e pregando uma falsa moral.
Após essas reflexões, o serão encerrou com exposição de imagens de pessoas que postaram fotos nas redes sociais protestando contra o resultado da pesquisa e deixou como mensagem a necessidade do respeito, do enfrentamento à violência contra a mulher, de evitar a culpabilização da vítima e a esperança de construir um mundo mais digno e agradável pela educação.
O serão é uma atividade que acontece à noite, no EFA, com viés educativo, envolvendo rodas de conversa, recreação e oficinas.