Mulheres artesãs pela transformação do Semiárido

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Mulheres artesãs. | Foto: Arquivo ISFA

Com as mobilizações do dia 08 de março é mais do que preciso olhar com bem querer para a caminhada das mulheres camponesas e reconhecer o protagonismo dessas agentes fundamentais na luta pela soberania do campo.

Falar de Convivência com o Semiárido é falar de uma perspectiva diferenciada para lidar com essa terra, contrapondo estereótipos e opressões construídos por anos sobre o Nordeste e o Norte de Minas Gerais, através de novas formas de viver e conviver. E pensar na transformação desse Semiárido, também é pensar em práticas que valorizem camponesas e a empoderem de sua dignidade/autonomia.

Divulgar as experiências positivas dessas mulheres também é ajudá-las a superar as barreiras históricas construídas sobre as mulheres camponesas. Para o Instituto de Formação Cidadã São Francisco de Assis (ISFA) é mais um dever contribuir para o fortalecimento da caminhada das mulheres agricultoras. Através da atuação do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2)(*), foi possível acompanhar lado a lado boas experiências de agricultoras familiares do Semiárido.

Iguais a Vilma Bispo e suas companheiras (**), que são referência na construção da Cooperativa de Produção e Comercialização dos produtos da Agricultura Familiar do Sudoeste da Bahia (Cooproaf) na comunidade da Boa Vista, em Manoel Vitorino/BA, outras agricultoras de Boa Nova/BA, também esboçam seus primeiros passos pela autonomia camponesa através da arte.

Para Marilene Moreira, agricultora da região do Capim de Cheiro, em Boa Nova/BA, a sabedoria de sua mãe foi fundamental para o desenvolvimento de seu trabalho com o ponto cruz – tipo de bordado muito popular para decorar toalhas e outros tecidos -, aperfeiçoado pelo próprio esforço: “A minha mãe fazia antigamente o ponto cruz, né, e aí depois eu me interessei, perguntava à mainha e aprendi comigo mesma”. Sua aspiração é melhorar a condição da família, que atualmente planta milho, feijão e fava, além de vender tempero artesanal.

Após aprender o ponto cruz, Marilene aguçou a curiosidade, começou a praticar o ponto fita – técnica que utiliza fitas de cetim e outros materiais para acabamento e decoração – e já está iniciando uma pequena produção a qual tem muito orgulho. “Tomei aula com uma pessoa e ela me ensinou. Ainda tá faltando alguns ajustes, mas eu já inventei e comecei mais ou menos. É o sonho da gente [que] temos vontade de fazer algo a mais e eu acho que é bonito e interessante!”, conta animada Marilene.

Moradora da mesma região, Adelina Oliveira, também agricultora, partilha o sonho da autonomia pela arte: “meu sonho é um dia conseguir uma renda com meu artesanato, tenho experiência pouca, mas a vontade é muita. E a oportunidade está vindo aos poucos, tenho muita vontade de crescer. A gente tem que inventar alguma coisa pra poder ajudar [na renda familiar]”.

A história da agricultora se confunde com seu próprio sonho, e para Adelina, investir no seu dom é mais do que fundamental. “Desde pequena eu tinha o sonho de fazer crochê, mas eu não sabia. Aí eu fui tentando e consegui! Minha outra tia também falou do curso de fita, e agora consegui fazer esse curso. Eu não tenho ainda o material suficiente, mas eu espero assim, quando eu parar de fazer o curso, vou juntar um dinheirinho, pra prosseguir com meus artesanatos!”

Marilene e Adelina ainda não formalizaram suas produções através da Associação, mas reconhecem as dificuldades das mulheres em buscar sua própria autonomia e igualdade de direitos e pretendem lutar cada dia mais para aperfeiçoar suas técnicas, bem como transformar a realidade das agricultoras em suas terras. “São oferecidos cursos, mas é para homens. A gente precisa juntar algumas [mulheres] para trazer o curso pra Associação”, relata determinada Marilene.

 Para Adelina, a certeza de seus sonhos e desejos é vital para que a mulher construa novos espaços de atuação e vivência. “Eu acho muito importante ter esse sonho, não só de artesanato, mas ter outros objetivos também. A mulher hoje em dia, tem que lutar”. 


  Sonhos e experiências como estas renovam a luta das camponesas dentro de suas comunidades, trazem novas esperanças e com um toque de carinho e criatividade, podem de fato, transformar o Semiárido numa terra mais digna e igualitária através da beleza de sua arte.

(*) O P1+2, executado pelo ISFA, é um programa celebrado no contrato de patrocínio entre a Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) e a Petrobras.

(**) Não conhece a história de Vilma Bispo? Clique aqui e leia um relato dessa boa experiência: http://asabrasil.org.br/Arquivos/candeeiro_1409_ba.rar


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