Intercâmbios: troca de experiências e construção de saberes no Semiárido
Agricultores/as participam de intercâmbio na Bahia. | Foto: Arquivo CASA |
Como diz Freire: “O homem, como um ser histórico, inserido num permanente movimento de procura, faz e refaz constantemente o seu saber”. É com esse objetivo que foi realizado entre os dias 21 a 24 de janeiro, dois intercâmbios intermunicipais. O primeiro deles aconteceu no município de Riacho de Santana, nas comunidades de Pau Branco, Santana e Cabeceiras. O outro aconteceu em Caetité, na comunidade de Vereda dos Cais.
Os intercâmbios foram marcados por troca de saberes que possibilitaram aos agricultores e agricultoras vivenciarem experiências singulares de convivência com o Semiárido. Inicialmente as famílias conheceram o trabalho do Movimento de Mulheres Camponesas de Riacho de Santana e refletiram sobre a importância do beneficiamento das frutas nativas da região, além disso, os agricultores foram incentivados a plantar hortaliças, plantas medicinais e frutíferas, para que assim garantam a segurança e a soberania alimentar, e, também gerar renda familiar.
Animados com a conversa, as famílias seguiram para a comunidade de Pau Branco onde visitaram a Associação e a Unidade de Beneficiamento de produtos da agricultura familiar de Pau Branco. Através dessa visita, os agricultores tiveram informações de como as famílias desta comunidade produzem e vendem pra merenda escolar, além de visualizar os quintais produtivos cheios de vida de seu Juraci e dona Valdete.
Os encontros de intercâmbios evidenciam a importância de compartilhar os saberes entre as famílias. Através de técnicas simples, é possível produzir com qualidade utilizando os recursos disponíveis no terreno. Como por exemplo, “cobrir as hortas é melhor porque o sombrite protege as hortaliças do sol, se não tiver o sombrite você pode usar a palha do coqueiro ou o capim”, afirma seu Juraci.
Outra experiência interessante que os agricultores tiveram a oportunidade de visitar foi a propriedade de seu João e Anadi na comunidade de Cabeceiras. O casal aproveita a água da nascente do rio para cultivar de tudo um pouco, “só não plantamos coisas que requer muito veneno como o tomate e o repolho, mas as outras coisas a gente planta, coentro, cebola, alface, beterraba, chuchu, cenoura, banana, etc. A couve que dá muito pulgão a gente usa defensivo natural”, concluem Anadi e seu João.
As famílias ficaram encantadas com a riqueza das plantações e afirmam que vão colocar em prática esses exemplos de convivência com o Semiárido. “Gostei do intercâmbio, fiz uma caminhada boa, tive conhecimento sobre muitas coisas, já andei pra vários lugares, mas nunca vi hortas bonitas assim. Isso é bom porque a gente leva muita experiência boa pra fazer lá na nossa terra”, diz seu Aloísio. O segundo intercâmbio não foi diferente. A beleza e a diversidade de experiências da comunidade de Vereda dos Cais, em Caetité incentivou as pessoas a transformar os arredores de suas casas em lindos quintais produtivos.
Fazendo esse passeio pela comunidade encontramos o quintal produtivo de dona Dalci e seu Geraldo, o tanque de pedra que permite seu Valdomiro plantar feijão, milho, capim, bananeira, pimenta, maracujina, laranja alface, tomate, maxixe, quiabo, entre outros. Além disso, a água do tanque de pedra é o suficiente para matar a sede das suas 60 ovelhas. O agricultor faz questão de compartilhar sua experiência com os demais agricultores, por isso afirma: “esse pedacinho de terra dá pra plantar muita coisa, a gente não passa sem verdura, tendo boa vontade para trabalhar se produz”, relata Valdomiro.
Encontramos também o lindo quintal produtivo de dona Francisca e seu Pedro onde se produz com muita fartura, isso fica claro na fala da agricultora quando diz: “pra quem sabe aproveitar, essas caixas é uma benção dos céus”, conta dona Francisca cheia de entusiasmo, pois agora ela não precisa comprar quase nada no mercado, até os temperos ela faz com açafrão, alho, coentro e cebola da sua própria horta.
Caminhando mais um pouco nos deparamos com a barragem subterrânea de seu Zelindo e dona Lúcia. Juntos eles cultivam hortaliças, frutíferas e outras plantas que garantem uma alimentação rica e saudável para toda a família. Os agricultores ficaram eufóricos com o colorido e a riqueza dos quintais, isso fica expresso na fala. “O pouquinho que você plantar já ajuda muito porque não precisa comprar. Lá em Santana a gente plantava muito na beira do tanque, quando eu casei mudei pra Solidão não deu pra plantar mais porque não tinha água, agora com as caixas as coisas vão melhorar”, afirma dona Ana, mais conhecida como Morena.
Ah! Não poderíamos deixar de falar da diversidade de plantações de seu Edvaldo. Nos arredores da sua casa, encontra-se um verdadeiro tesouro que revela a boa vontade e a garra de quem tem amor pela terra. O seu quintal é uma verdadeira agrofloresta, tem as árvores nativas como o murici, a cagaita, o tamboril, tem também as plantas medicinais como insulina, guaco, losna, arruda, cará, mertiolate, tem amora, inhame, quiabo, poejo, almeirão, mostarda, couve, rúcula, alface, pitanga, entre outros.
Assim, os intercâmbios favoreceram a construção de saberes, a troca de experiências e fortaleceram a proposta de convivência com o Semiárido que o Programa Uma Terra e Duas Águas – P1+2 vem enfatizando durante o processo de conquista das tecnologias.