ASA Paraíba participa do I Workshop Internacional sobre Água no Semiárido brasileiro
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Glória representou a ASA durante o Workshop | Foto: Simone Benevides |
Dois momentos foram dedicados à Articulação do Semiárido na Paraíba (ASA-PB) durante o I Wokshop Internacional sobre Água no Semiárido Brasileiro, da Açudagem à Transposição’, que aconteceu no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Paraíba (Fiep), nos dias 11, 12 e 13 de dezembro.
No dia 12 (quinta-feira), a ASA-PB participou da mesa redonda sobre Capacitação e Armazenamento de Água no Semiárido. Antonio Carlos Pires de Melo, representante da Comissão Água, apresentou várias tecnologias desenvolvidas pela ASA, através dos programas Um milhão de Cisternas (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas e (P1+2).
Antonio falou da importância destas ações para as famílias que vivem no Semiárido, dizendo que em toda a história rural do país, as grandes obras hídricas deixaram de atender a maioria da população, desfavorecendo, principalmente, as mulheres e as crianças.
Antonio defendeu as cisternas para água de consumo, cisternas calçadão, tanques de pedras, barragens subterrâneas, barreiro-trincheira, barraginha, dentre outras tecnologias. “São essas pequenas iniciativas de armazenamento que mudaram a convivência com o Semiárido”, disse, ao se referir às tecnologias potencializadas pelo trabalho da Articulação.
O representante também destacou que todas as ações da ASA são mobilizadas junto à comunidade, através de formações que possibilitam a capacitação para a gestão da água, para a produção de alimentos, consumo e práticas de irrigação, colocando em evidência também as relações de gênero nas famílias, valorizando e dando visibilidade ao papel da mulher na agricultura familiar.
Já na sexta-feira, dia 13, a coordenadora da ASA-PB, Maria da Glória Batista de Araújo participou do evento como conferencista. Ela conduziu o tema “Organizações Não Governamentais (ONG’s) e suas contribuições para a mitigação dos efeitos da seca”.
Glória falou da ação da política da ASA em relação à autonomia dos agricultores, expondo que as políticas governamentais, ao longo do processo histórico, não ajudaram ao desenvolvimento do Semiárido, porque sempre geraram dependência. “Nós buscamos a autonomia dos nossos camponeses, por isso, todos os anos realizamos encontros com os agricultores experimentadores, nós queremos uma política de convivência com o Semiárido, e queremos partilhar estes saberes que não são valorizados pelas academias e pela a ciência. É preciso que haja uma aproximação entre estes saberes, é preciso dizer que trabalhamos com tecnologias que nascem dos agricultores e não da nossa iniciativa, nós apenas ajudamos a potencializá-las”, destacou Glória.
A coordenadora da ASA-PB lembrou que a ASA nunca defendeu a construção de cisternas como a solução absoluta para a estiagem, e frisou que estas são propostas ao governo para amenizar a situação nos períodos sem chuva. Hoje, 700 mil cisternas foram construídas pela ASA e pelo governo, resultando no acesso à água a 20 milhões de agricultores. “Quando damos acesso água, estamos dando poder as pessoas, porque água, semente e conhecimento, é poder”, defendeu Glória.
Com isso, Glória disse que a luta da organização vai além da política da gestão da água: “a nossa luta não é só por água, mas, também pela biodiversidade, e nós estamos batalhando pela valorização das sementes crioulas, pela resistência dos bancos de sementes, porque queremos preservar nosso patrimônio genético, assim como preservamos nossa cultura do forró, dos violeiros, queremos resgatar nossa vegetação e nossa forma de cuidar da natureza”.
Com todas essas ações, a paisagem do Semiárido mudou. A coordenadora apontou dados de pesquisa realizada pelo FioCruz sobre o P1MC, entre 2007 e 2008, mostrando a relevante melhoria na vida das pessoas ao indicar o baixo índice de mortalidade infantil das famílias participantes do programa. “Só sabe o valor de uma cisterna, quem já andou quilômetros de distância carregando água na cabeça, sobretudo, as mulheres e as crianças, que foram os que mais sofreram. Não adianta se investir em grandes reservatórios apenas. É preciso ter água na casa de cada família do Semiárido”, refletiu Glória.
Por fim, ela abordou os problemas das cisternas de plástico, que a ASA avalia como nocivas à população: “a cisterna de plástico é mais cara que a de placa, é comprada às multinacionais, as mesmas empresas que incentivam o agronegócio, os transgênicos e os agrotóxicos, e nossa preocupação também está relacionada ao lixo que este material irá proliferar pelo nosso Semiárido, o que vamos fazer com este lixo, daqui a dez ou vinte anos”.