Superando desafios: um modo simples de viver na região semiárida

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Seu Valtetônio controla todos os recursos utilizados na agricultura | Foto: Eudes Costa

A criatividade, o olhar atento da observação, se torna ferramenta indispensável para encontrar saídas diante de certas dificuldades. É o que fazem muitos agricultores e agricultoras do Semiárido. Eles e elas agarram-se aos seus experimentos, inventando e identificando alternativas adequadas para o cultivo dos plantios e a criação de pequenos animais, numa região onde a chuva demora e a água que se tem é pouca.

Esse tipo de situação pode ser acompanhada na história do senhor Valdetônio Limeira de Abreu, de 36 anos, que mora com sua esposa Maria Ivanilda (44) e a filha Vitória Aparecida (08), na comunidade sítio Serra da Arara I, no município de Cajazeiras, no alto sertão da Paraíba.

Seu Valdetônio é um sertanejo de olhar atento e de fala tranquila. Conta que a luta diária não é fácil no sítio, no entanto, se mostra otimista o tempo todo para vencer qualquer obstáculo.
A sua atividade é concentrada na criação de caprinos, no plantio do roçado, e especialmente no plantio de palma. Devido ao cultivo da palma, um sonho antigo foi despertado, a criação de bode. Ele sabia que com a palma daria para alimentar o seu rebanho. É ai que tudo começa.

O incentivo inicial veio através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), da ASA, com a construção da cisterna-calçadão. Por conta do caráter produtivo, foram entregues novecentas e quarenta folhas de palma, correspondente a parte que integra a implantação do Sistema Simplificado para a Produção de Alimentos. Plantou tudo, e logo foi percebendo que o seu sonho estava preste a ser realizado; e como não poderia ser diferente, veio às criações. No entanto, precisou de orientação e de certa ajuda. Então, durante algum tempo o agricultor contou também, com uma grande colaboração de assessoria e assistência dos coordenadores do Programa de Ação Social de Política Pública (PASPP), pertencente à Ação Social da Diocese de Cajazeiras (ASDICA).

O agricultor inventou máquina para prensar forragem | Foto: Eudes Costa

No intuito de guardar adequadamente toda a ração animal durante o ano, o agricultor inventou uma máquina para prensar a produção de forragem. Tudo bem simples com algumas adaptações, usando material disponível em casa. Com madeira, fez um caixote adaptando um macaco hidráulico na parte baixa, quando acionado diversas vezes, vai comprimindo a ração, diminuindo o volume, formando um bloco de feno, cada feno chega a pesar vinte quilos.

Os caprinos são animais resistentes, gostam mais de ração seca, e sempre escapam com o que resta na mata, aproveitam toda a vegetação da caatinga. O agricultor acha fácil criar esse tipo de animal. Segundo ele as vantagens são melhores do que a criação de gado. A demanda de alimento para o gado é bem maior, o que daria para alimentar dez caprinos, uma cabeça de gado consume tudo de uma só vez. “Sou novato em criar esses animais, estou aprendendo cada vez mais o manejo, mas sou sincero em dizer, que não encontrei ainda nenhuma dificuldade, como os outros tanto costumam falar”, desabafa seu Valdetônio.

No ano de 2013, a produção de forragem foi menor, no entanto, ainda conseguiu fazer setenta e oitos bloquinhos de feno, o que garantiu uma segurança e alimentação por um longo período para os animais. A atenção também é fazer uma ração balanceada com milho, leucena, mata pasto, tudo misturado e passado na forrageira. “Eu tenho a palma, tenho o capim, tenho pastagem seca. A palma eu tiro todo dia, corto em pedacinhos e dou para as cabras. Elas gostam muito desse tipo de ração, por isso acho que seja uma combinação interessante para a nossa região, o cultivo dessa planta que serve como ração, e desse animal que se adapta muito bem”, fala seu Valdetônio.

As cercas das duas áreas do roçado onde vivem os animais são muito bem feitas, tudo pensado para evitar que eles invadam outros terrenos. O controle da alimentação dada aos animais é seguido à risca, durante três vezes ao dia. O aprisco construído para abrigar os caprinos é todo feito de vara, e bem caprichado, com compartimentos para, inclusive, colocar os animais recém nascidos.
Quando precisa, ou é procurado o agricultor vende um animal, o que na maioria das vezes a renda ajuda na despensa de criar os demais. O valor varia de 150,00 a 200,00 reais, dependendo do peso do animal.

Nessa fase de estiagem seu Valdetônio mandou cavar um poço artesiano na esperança de encontrar bastante água, só que se deparou com o inesperado. Não foi bem sucedido no local apontado para a escavação. O poço rendeu pouca vazão, apenas 500 litros por dia, uma quantidade que praticamente só dá para o abastecimento das atividades domésticas. Mesmo assim, é com essa água que o agricultor tem mantido, organizado e administrado todo o seu trabalho na propriedade; com um motor joga parte acumulada da água pra dentro da cisterna calçadão. Recarregando esse reservatório alivia a sede dos animais.

Com o suporte dessa estrutura, e a água do poço seu Valdetônio segue acreditando no seu esforço e no seu trabalho, sem desanimar, encontrando sempre uma melhor forma de se viver sem ter que se desesperar. Quando os amigos o convidam para ir embora do lugar, ele responde com uma simples frase, fazendo uma referência alegre a uma das músicas do saudoso Luiz Gonzaga: “eu só deixo o meu sertão, no último pau de arara”, diz sorrindo.


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