Em Abaré, Povo Tuxi é contemplado com tecnologias do Projeto Mais Água

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Artesã expõe seu trabalho. | Foto: Arquivo Irpaa

Famílias das comunidades indígenas de Garajau e Fazenda Pereiros, no município de Abaré (BA), fazem parte do público-alvo do Projeto Mais Água, executado pelo Irpaa em cinco municípios baianos que já contam com outras ações da instituição. Com o propósito de garantir a segurança alimentar e nutricional a partir do uso da água de chuva, o projeto realiza formações voltadas para a Convivência com o Semiárido e implementa tecnologias úteis para captação e armazenamento de água da chuva.

Em Abaré, 09 comunidades indígenas, 05 comunidades quilombolas e 10 comunidades de Fundo de Pasto estão acessando 41 barreiros-trincheira e 04 barreiros comunitários, 45 cisternas-enxurrada, 02 Bombas d’Água Popular, 20 quintais produtivos, além da limpeza de 12 aguadas. A família de Rita Maria da Conceição, na Fazenda Pereiros, e de Manoel Alves de Oliveira, em Garajau, aguarda com ansiedade a chuva pra ver o barreiro cheio, garantindo assim água para os animais e até mesmo para uma pequena horta e pomar.

Rita diz que hoje se vale de uma cacimba para dá água ao rebanho, fonte principal de renda da família. “A gente tem a maior dificuldade nesse tempo, chega até a comprar água pra os bichos da gente. Quando a prefeitura não manda o jeito é comprar, que nem já foi comprado aqui de 50 reais pra botar na cacimba, num dá oito dias”, conta a criadora.

O barreiro foi escavado no mês de abril e Dona Rita aproveitou uma pouca chuva que caiu para experimentar o cultivo de melancia, abóbora, pinha, goiaba, manga, umbuzeiro, acerola, além de plantas medicinais e forrageiras como palma e leucena, algumas mudas doadas pelo projeto. A água secou, mas algumas plantas estão ainda se desenvolvendo ao serem regadas com água da cacimba. Do mesmo jeito agiu seu Manoel Alves: plantou mamão, maracujá, limão, coentro, batata, capim, entre outros cultivos adaptados à região. O agricultor fala com entusiasmo do cuidado que está tendo com o barreiro e de sua expectativa em vê-lo servindo a família: “Com a fé em Jesus, depois dele cheio vou fazer meus plantios, vou ter algum ‘dicomer’ pra dá a meus bichos e vou ter alguma coisa pro consumo de casa. Se ele [o barreiro] já tivesse cheio pra mim era melhor, porque hoje tá sendo apertado, mas o homem da Caatinga é forte, por isso tá aguentando”.

Seu Manoel, animado com a energia elétrica que chegou recentemente na comunidade, cita que o problema da água também pode ser facilmente solucionado se houver vontade política: “uma adutora de água  ia melhorar muitas coisas”, reivindica, informando que a comunidade situa-se a uma média de 07 km do Rio São Francisco.

Identidade

Tem crescido no município o autoreconhecimento de comunidades indígenas. Pereiros e Garajau são alguns dos povoados remanescentes dos povos indígenas Tuxis, que estão lutando para terem seus territórios demarcados e regularizados. Nas últimas semanas, cerca de 200 famílias fizeram a retomada de uma área em meio à Caatinga, e buscam agora respaldo jurídico para garantir a terra, onde já estão construindo barracos.

Dona Rita, que também diz está firme nas lutas da aldeia, conta que possuem um local onde realizam as reuniões da associação e onde todo sábado se reúnem para dançar o toré, ritual típico dos indígenas. Filha de oleiro, ela tem o dom de fazer artesanato de barro e também de palha, mas confessa que gostaria de participar de cursos de aperfeiçoamento para produzir mais peças e também contar com incentivos para comercializar. Quem também é artesã é a esposa de Seu Manoel, Maria Helena Ribeiro dos Santos, que faz tapetes reciclando sacolas plásticas, uma forma sustentável de contribuir com as despesas da família.

Para o técnico do Irpaa que acompanha o projeto no município, Deive Nascimento, a questão organizacional precisa avançar nas comunidades, assim como a discussão acerca da Convivência com o Semiárido precisa se fortalecer. Segundo Deive, é a primeira vez que essas comunidades de abrangência do Mais Água estão contando com este tipo de ação, que, além de implantar as tecnologias, realiza também uma ação educativa, pedagógica voltada para a realidade das famílias, com vistas a incentivar uma melhor convivência com as condições climáticas.

 

  

 

 

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