Tecnologias sociais: transformando água da chuva em dignidade e cidadania no Semiárido
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Entre os dias 13 e 14 de novembro, o Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia (Cedasb) e o Instituto de Formação Cidadã São Francisco de Assis (Isfa) celebraram o seu Encontro Microrregional e Microterritorial, que contou com a presença de mais de 90 agricultoras e agricultores da região, representando mais de 14 municípios da região.
Sob a temática “Tecnologias Sociais na Construção de um Semiárido mais digno e sustentável”, o encontro teve como objetivo o fortalecimento das tecnologias sociais no Semiárido,enquanto meio sustentável de garantir a dignidade do povo sertanejo.
Durante o decorrer do encontro, agricultoras e agricultores integraram os primeiros espaços de reflexão sobre a viabilidade da permanência das comunidades rurais em seu território, o Semiárido, através da implementação de tecnologias sociais. “A nossa comunidade hoje tem uma grande história para contar. A nossa comunidade tinha organização, mas não tinha conhecimento. Com a chegada dos projetos (…) a coisa mudou, a gente não tinha sede para reunião e com a chegada da ASA [Articulação Semiárido Brasileiro] e todos os conhecimentos, (…) a gente conseguiu o curso de Cooperativismo, que foi onde começou tudo de nossa comunidade, hoje tem nossa sede… É uma vitrine da nossa comunidade!”, relatou Orlando Ribeiro, sobre a história de sua comunidade, Ruinha, do município de Boa Nova/BA.
Através dos laços construídos e saberes trocados com os projetos de Convivência com o Semiárido, executados pelo Cedasb e Isfa, a comunidade da Ruinha pode se capacitar e consolidar a sede da Associação Comunitária. Com noções de cooperativismo e associativismo, seu Orlando se tornou uma referência enquanto membro da Comissão Executiva Municipal de Boa Nova.
“A ideia foi promover um momento de reflexão e definição do que de fato venha ser uma política pública, mostrando para os participantes tudo aquilo que está para além da materialidade de uma cisterna, tudo aquilo que não vemos ao olharmos para a tecnologia, mas que está lá imbuído naquele concreto pintado de branco. Dessa forma todos entenderam que a Convivência com o Semiárido dentro da proposta da ASA, é também conhecê-lo e discutir o que realmente é viável para nós”, para Eliane Almeida, coordenadora técnica do P1+2, celebrado através de um contrato de patrocínio com a Petrobras e executado pelo Isfa, histórias como a da comunidade da Ruinha demonstram os outros ganhos sociais no processo de implementação das tecnologias sociais.
A respeito da mobilização social, o evento também discutiu as cisternas de plástico, que trazem às entidades gestoras da ASA, uma renovação do compromisso em dialogar e refletir com suas comunidades de base acerca da Campanha Cisternas de Plástico/PVC – Somos Contra!
“As cisternas de placas, seja da primeira água ou segunda água, abrange uma dinâmica humana e social muito intensa que é impossível desconsiderar, por isso, cientes do que venha ser uma tecnologia social, foi lançada a semente no encontro para que cada agricultor e agricultora possa também defender sim, a ampliação do acesso a água pelas cisternas de placa, e NÃO as cisternas de plástico que se caracterizam como um instrumento político de rápida implementação, mas de alto custo, ineficaz e ineficiente para nosso povo e nosso semiárido”, conclui Eliane.
Circulando saberes
Para circular informações e saberes acerca das implementações e debater as possibilidades de potencializações das mesmas através das práticas agroecológicas, foram promovidas durante o evento as Ofcinas rotativas.
Numa dinâmica de circulação e troca dos participantes de cada oficina, todos (as) agricultores (as) puderam se integrar aos debates de todas oficinas. Com quatro temáticas diferenciadas, as oficinas rotativas promoveram uma troca intensa de saberes acerca das potencialidades das tecnologias à Política Pública de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) baseada em práticas agroecológicas.
Para Helena Paula, coordenadora das atividades de ATER no lote 04, as rodas de discussão foram fundamentais sobre a política pública foram fundamentais para que os (as) agricultores (as) possam se inteirar sobre o acesso e como se empoderar da mesma. “Foi muito importante, porque [os (as) agricultores (as)] conseguiram visualizar o papel do ATER dentro do Cedasb juntamente com o Isfa. A gente conseguiu demonstrar que [o ATER] foi uma conquista de luta de movimentos e de entidades. A tendência do ATER é só de crescer (…), porque é a continuidade das tecnologias implantadas”, complementa Paula.
O processo da construção de conhecimento através das chamadas de ATER representa para as equipes técnicas das entidades executoras, o suporte para continuar e fortalecer o potencial produtivo das tecnologias. Ensinar e aprender sobre os defensivos naturais neste momento é necessário para viabilizar a Agroecologia e a resistência contra o veneno na produção.
Terêncio Vieira, técnico agrícola, e Normeide Oliveira, monitora de capacitações de Gapa e Sisma (*), ministraram o espaço sobre os Defensivos Naturais. Para Terêncio, os resultados do trabalho são gratificantes e dão vida ao Semiárido, “com acompanhamento nos termos agroecológicos, a gente tá conseguindo já grandes avanços, já existem famílias que estão produzindo hortaliças sem nenhuma intereferência de produtos químicos, e isso é de fundamental importância para o nosso trabalho, porque a gente já tem resposta na prática daquilo que a gente vem planejando durante o tempo nessa percorrida”, conclui o técnico.
Além das rodas de conversas, as equipes técnicas puderam partilhar com os (as) agricultores (as) presentes um pouco da história das entidades. Everaldo Mendonça, presidente do Cedasb ressaltou os dados dos atuais projetos executados e quais regiões já estavam empoderadas de primeira e segunda água. Para pontuar as atividades atuais do Isfa, o presidente do mesmo, José Francisco Azevedo apresentou um vídeo, elaborado pelo grupo de jovens que atuam no ponto de cultura Raiz do Umbuzeiro. “Falar do Isfa é falar um pouco de mim. O valor do Isfa são as pessoas, desde quem dibuia no teclado atrás do computador, a quem dibuia o feijão para plantar depois no seu barreiro”, descreveu Caíque Aguiar, voluntário do Isfa ao comentar o processo produtivo do vídeo.
Após as apresentações e os debates acerca dos próximos passos das entidades, agricultoras e agricultores avaliaram o evento positivamente, com a vontade de dar continuidade às práticas de Convivência com o Semiárido junto às equipes técnicas. “A ASA é um respeito, que veio tirar a gente da escravidão, eu pedi a Deus pra ajudar a vida dessa pessoas. Água é vida, pra gente ajudar as pessoas com vida, com água. A ASA são pessoas que olham para o homem do campo!”, avaliou seu Carlos José Correia, presidente da Associação dos Pequenos Produtores de Vereda.
Para Joanides Neves, agricultora da comunidade de Poções, a união na caminhada foi fundamental pelas conquistas e a pretensão é continuar com a ASA, fortalecendo do campesinato do Semiárido: “Muito obrigada por vocês virem na caatinga e muito obrigada por nos fazer respeitar o dom da vida. Vamos fazer nosso sertão feliz!”.
(*) Os cursos Gapa (Gestão de Água para Produção de Alimentos) e Sisma (Manejo de Sistema Simplificado de Água para a Produção) são capacitações realizadas durante o processo de mobilização social para a implementação das tecnologias de segunda água, através do P1+2.