Estocando água: um barreiro para os moradores de Cabeceiras

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Barreiro-trincheira comunitário do Projeto Mais Água pretende suprir demanda de água para produção de dez famílias na zona rural de Belo Campo

 
 Barreiro comunitário armazenará cerca de 1,8 milhão de litros d’água | Foto: Rodrigo de Castro/Arquivo Cedasb

O barreiro-trincheira é uma tecnologia social que se aproveita da impermeabilidade dos solos de diversas regiões do Semiárido para captar e estocar a água da chuva. Escavando-se em terreno apropriado com máquina retroescavadeira uma espécie de caixote, estreito e profundo, se obtém uma estrutura que guarda bastante água com pouca evaporação, graças ao pequeno espelho d’água criado quando o barreiro está cheio.

O Projeto Mais Água, executado em convênio entre o CEDASB (Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia) e o governo da Bahia, trabalha com dois tipos de barreiro: o familiar, com capacidade para 500 mil litros em média, e o comunitário, que armazena cerca de 1,5 milhão de litros d’água, a depender do local onde for escavado.

As famílias do povoado de Cabeceiras, na zona rural de Belo Campo, foram as primeiras a serem contempladas com o barreiro comunitário do Mais Água. Na localidade predominam os pequenos agricultores e agricultoras que cultivam mandioca, mas também plantam outras coisas, a depender da oferta de água. Como conta seu Alfredo Santiago da Silva, os moradores da comunidade precisam buscar água fora para suprir suas necessidades. “Nós vamos ao poço artesiano lá do Jatobá (comunidade vizinha) pegar água para usar na nossa terrinha e lavar roupa, já que a água da cisterna a gente só usa pra cozinhar e beber”.

 
 Seu Alfredo e Dona Jair se divertem no arredor de casa. | Foto: Rodrigo de Castro/Arquivo Cedasb

Para Evangelista Silva, o barreiro, quando estiver cheio, ajudará muito na hora de matar a sede dos animais. Ele possui um pequeno açougue, onde comercializa carne de suas cabeças de gado e também das criações dos vizinhos. Ele conta que em 2012, no auge da estiagem, ele precisou buscar água em outras regiões várias vezes para manter suas poucas cabeças de gado vivas. “Tive muita despesa, peguei carro emprestado, o carro-pipa não dava conta. Foi muito difícil”.

Na opinião de seu Alfredo e dona Jair, tudo isso apenas reforçará a relação de amor deles com o chão onde vivem. “Eu morei vinte anos em São Paulo, mas voltei e hoje não troco esse meu quintal aqui por nada. Não tem preço essa visão que temos todo dia ao acordar, esse ar puro. Gostamos demais daqui”, relata enfático o simpático casal.

 Na casa de seu Alfredo e de sua esposa, Jair, dá para encontrar um pouco de tudo. Além da horta no quintal e da mandioca, ele cultiva uma gama de fruteiras: tangerina, limão, graviola, jamelão, manga, pitanga, acerola, goiaba, laranja, licuri, seriguela, pinha, abacate, abacaxi, jabuticaba e umbu. Quando as chuvas retornarem e o barreiro encher, ele acredita que tanto ele quanto os seus vizinhos poderão trabalhar mais com a terra, com água mais próxima para todo mundo. “Isso aqui vai ser bom demais, olha o tamanho desse bichão (o barreiro tem mais de 5m de profundidade). Já pensou quando estiver cheio?!”

Com a família de Dona Maria Lourdes Silva, a expectativa é de não precisar mais comprar verduras e hortaliças na feira da cidade. “Hoje a gente compra quase tudo fora, porque falta água fora da época das chuvas pra gente fazer as hortas. Eu tenho muita vontade de fazer minhas hortas no quintal porque é difícil ter que ir lá em Belo Campo pra comprar verdura”, conta. Assim como dona Maria, outras famílias vivem situação semelhante, e contam com o acesso mais próximo a água para poder produzir.

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