Novas estruturas do P1+2 já exercem seu papel no sudoeste baiano
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Seu Domingos orgulhoso | Foto: Rodrigo de Castro |Arquivo Cedasb |
No sertão é assim: a cada ano as famílias passam meses quase sem ver uma gota d’água caindo do céu, até que chega um determinado mês (que varia entre novembro e março, conforme a região) onde as nuvens se carregam e derramam chuvas e esperanças para milhares de pessoas. Contudo, este período dura pouco tempo, e logo o ciclo de estiagem volta a predominar na vida do sertanejo.
Essa é uma característica do clima Semiárido, que distribui suas chuvas (entre 400 e 800 mm) de forma concentrada em um curto espaço de tempo, refletindo diretamente na oferta de água para os habitantes da região.
Uma alternativa eficiente para se adaptar a essas condições climáticas é a prática de estocar água. A ASA (Articulação Semiárido Brasileiro) vem implantando tecnologias sociais para o armazenamento de água para a produção de alimentos por meio do P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas) há anos, promovendo sustentabilidade para milhares de famílias.
Nos municípios baianos de Cândido Sales e Encruzilhada, localizados na região sudoeste do estado, as implementações do P1+2 chegaram em um momento propício: pouco tempo antes das chegadas das chuvas em janeiro. Moradores de diversas comunidades dos dois municípios já estão com seus barreiros-trincheira, cisternas-enxurrada e calçadão cheios, ou perto disso.
Dentre as dezenas de famílias que já estão com suas estruturas hídricas abastecidas pela chuva, está a cisterna-enxurrada de Janete de Souza, que vive na comunidade Sobrado, em Encruzilhada. “Fiquei tão feliz quando vi a caixa pronta que estourei fogos de artifício! É uma alegria enorme ter onde guardar a água pra quando a seca voltar”, afirma Janete, que pretende produzir legumes e verduras em sua futura horta. Para seu Domingos, a água armazenada nas cisternas da comunidade pode proporcionar algo mais do que apenas produzir para o próprio consumo. “Se elas [cisternas] estiverem todas cheias, a gente pode produzir quase o ano todo, e sem nada de tóxico. Inclusive nosso objetivo é colocar uma barraca na feira, pra vender nossa produção”.
A agricultora Ana Amorim, do povoado Espírito Santo em Cândido Sales, relembra da dificuldade que tinha para cultivar. “Se eu quisesse fazer uma horta, eu buscava na cabeça quando não tinha água, porque eu queria muito ter. Agora que eu tenho essa cisterna, vou fazer muito mais coisas aqui”, disse mostrando o roçado de milho e o quintal onde planta hortaliças e ervas, além dos novos canteiros montados com pedaços de pau e esterco seco catado por ela nos arredores. “Pra que eu vou comprar adubo se eu já tenho aqui perto?”, afirma demonstrando um bom exemplo de prática agroecológica.
Os municípios de Cândido Sales e Encruzilhada receberam juntos 126 estruturas hídricas de captação e armazenamento de água, divididos entre cisternas-enxurrada, cisternas-calçadão, barreiros-trincheira e as demais tecnologias sociais do P1+2. Desse total, cerca de 70% já foram abastecidas pelas chuvas dos primeiros dois meses do ano, o que traz uma boa perspectiva de resistência à próxima estiagem nas comunidades beneficiadas.
O Cedasb (Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia), Unidade Gestora Territorial (UGT) responsável pelo P1+2 na região, construiu ao todo 260 estruturas que buscam promover a segurança e soberania alimentar das famílias beneficiadas, com recursos do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).