Seminário virtual discute estratégias para combater desertificação no Semiárido Brasileiro através das sementes nativas e crioulas e mudas de plantas da Caatinga
Evento da ASA mostra como o manejo da agrobiodiversidade, através dos bancos comunitários de sementes crioulas e produção de mudas nativas pode reverter a degradação no Semiárido

Evento da ASA, em parceria com MMA e FAO, através do projeto REDESER, promoveu o diálogo com diferentes atores sobre estratégias e experiências dos povos e organizações da Caatinga na coleta, armazenamento e comercialização de sementes, gestão de bancos comunitários de sementes e mudas nativas pode reverter degradação no Semiárido e as interfaces com a legislação e com o Sistema Nacional de Sementes e Mudas.
Num momento crucial para o Semiárido brasileiro, onde 20 milhões de hectares da Caatinga enfrentam processos de degradação, a ASA reuniu agricultores, pesquisadores e gestores públicos em um seminário virtual para debater o papel estratégico do Sistema Nacional de Sementes e Mudas (SNSM) no combate à desertificação. O evento, transmitido ao vivo na terça-feira (15), mostrou como a regularização dos bancos comunitários de sementes pode ser a chave para restaurar ecossistemas e garantir segurança alimentar.
O webinar faz parte do Projeto “Revertendo o Processo de Desertificação nas Áreas Suscetíveis do Brasil: Práticas Agroflorestais Sustentáveis e Conservação da Biodiversidade” (Redeser). A iniciativa é do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) e está sendo executada pela ASA, por meio do Programa Sementes do Semiárido, com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
“Estamos numa corrida contra o tempo”, alertou Alexandre Pires, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), ao abrir o debate. “A Caatinga pede socorro, e as sementes crioulas e nativas que as famílias agricultoras guardam há gerações podem ser nossa maior arma nessa batalha.” O diretor do Departamento de Combate à Desertificação foi enfático ao defender que a regularização no SNSM não é burocracia, mas sim o passaporte para que esses guardiões da agrobiodiversidade acessem políticas públicas e ampliem seu trabalho de restauração.
Do outro lado da tela, Claudio Almeida, assessor de coordenação do Programa Sementes do Semiárido, trouxe dados concretos: um diagnóstico inédito com quase 900 questionários aplicados revelou a situação de mil bancos comunitários de sementes no Semiárido. “Muitos resistiram mesmo durante os anos difíceis da pandemia, mas precisamos reanimar essas redes. Cada casa de semente que conseguirmos regularizar será um ponto de luz no mapa da desertificação”, explicou, referindo-se ao projeto que pretende capacitar agricultores para coletar, armazenar e multiplicar espécies nativas.
As experiências compartilhadas mostraram que o caminho já está sendo trilhado. Bruno Silva, da Rede de Escolas Famílias Agrícolas Integradas do Semiárido (REFAISA), emocionou os participantes ao contar como mudas de umbu e maracujá-da-caatinga produzidas em viveiros escolares transformaram realidades. “São histórias que nos enchem de orgulho: jovens que levaram essas mudas para casa há seis anos hoje colhem frutos que viram alimento, renda e até remédio. Isso prova que quando unimos conhecimento tradicional e apoio técnico, a convivência com o Semiárido não só é possível como é próspera.”
Mas os desafios são muitos, como lembrou a professora de engenharia florestal Maria do Carmo, da UFCG. “Enquanto um quilo de sementes de jatobá é vendido por cinco reais por coletores sem apoio, o eucalipto transgênico recebe subsídios milionários. Essa desigualdade precisa acabar se quisermos cumprir a meta de restaurar milhões de hectares nos próximos anos.” Sua fala reforçou a urgência de políticas públicas que valorizem quem preserva.
O seminário marcou um momento importante e de muito simbolismo na implementação do Projeto Redeser, que investirá R$ 19 milhões na recuperação de áreas degradadas. Paulo Pedro de Carvalho, assessor técnico do projeto, destacou: “Não se trata apenas de replantar árvores, mas de fortalecer toda uma rede de conhecimento tradicional que pode, sim, virar política pública de Estado. É isso que nos move.”
Como mensagem final, Zé Maria, agricultor do Piauí, deixou um recado simples mas poderoso: “Quem guarda semente guarda vida. E depois de tantos anos de luta, estamos vendo que essa semente de resistência finalmente está germinando nos corredores do poder.” O vídeo completo do seminário está disponível no canal da ASA no YouTube, onde qualquer pessoa pode assistir e se juntar a essa corrente pela vida no Semiárido.