Plenária de Análise de Contexto reconhece legados da ASA e aponta caminhos para o futuro do Semiárido
Kleber Nunes | Asacom
As memórias das lutas e as perspectivas para a política de convivência com o Semiárido estiveram no centro do debate do X Encontro Nacional da ASA (EnconASA), nesta quinta-feira (21), em Piranhas (AL). A plenária sobre o contexto político, econômico e social com foco na região – que compreende o interior do Nordeste e parte de Minas Gerais – contou com a participação de representantes da articulação, parceiros e membros do Governo Federal.
A mesa foi composta pela assessora nacional da FASE – Solidariedade e Educação, Maria Emília Pacheco; a representante da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Leila Santana; a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal; pelo secretário nacional de Economia Popular e Solidária, Gilberto Carvalho; e pela representante da coordenação da ASA, Valquíria Lima.
A Plenária de Análise de Contexto partiu do atual cenário do Semiárido descrito pelas agricultoras, agricultores, técnicos e técnicas, que participam do EnconASA, nas oficinas realizadas na quarta-feira (20). Os anúncios e denúncias envolvendo diversos temas como, por exemplo, energias renováveis, educação contextualizada e acesso à terra foram sistematizados e apresentados por Maria Emília Pacheco.
Em sua fala, Maria Emília alertou para as ameaças que chegam ao Semiárido por meio de grandes projetos predatórios com o discurso de que “são soluções baseadas na natureza”, mas na verdade expulsam famílias, destroem o meio ambiente e geram riquezas para poucos.
“Como disse um agricultor na oficina sobre energias renováveis: ‘até o vento mudou’. Há um processo de apropriação privada dos bens da natureza e é preciso chamar a atenção para isso”, afirmou Maria Emília.
A partir da contribuição das oficinas, a representante do MPA, Leila Santana, destacou que a tarefa “histórica e ancestral” dos povos do Semiárido brasileiro “sempre foi de salvaguardar os bens naturais”. No entanto, segundo a agricultora, essas práticas de promoção do bem-viver que subsidiam políticas públicas correm o risco de serem desmanteladas novamente como aconteceu entre 2016 e 2022.
“Celebramos a retomada de um governo popular, mas temos uma extrema-direita que monitora nossas conquistas e nossos territórios. É preciso entender isso no Semiárido para que possamos enfrentar essa realidade”, disse Leila.
Sociedade e Estado
Apontado como um dos maiores legados da ASA para o Brasil, o diálogo entre a sociedade civil e o Estado foi ressaltado pela mesa como estratégico para vencer os desafios atuais e os que podem vir pela frente. Para Lilian Rahal, que falou em nome do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, não é possível fortalecer e fazer novas políticas públicas sem escutar o povo, “e isso o Semiárido ensinou a todos nós”.
“O quanto a gente aprende com a sociedade civil. Lembro que lá atrás a ASA nos desafiou a construir um milhão de cisternas. Uma meta que parecia completamente impossível, mas a gente conseguiu e ainda criou cisternas de produção, e está levando cisternas para a Amazônia e para o Rio Grande do Sul”, afirmou Lilian.
Gilberto Carvalho reafirmou as palavras da colega de governo e conclamou a ASA a seguir avançando com o método comprovadamente eficaz de mobilizar e estimular o povo a refletir sobre a realidade brasileira. O secretário lembrou que o governo Lula não tem maioria no Congresso Nacional e, por isso, precisa ainda mais de uma base social crítica que ajude a reconstruir o país e consolidar o poder popular.
“Queria pedir um casamento [dos programas da ASA] com a economia popular e solidária. É preciso indicar a todas as pessoas o caminho da economia circular. Temos que avançar e você são atores e atrizes fundamentais nesse processo”, declarou o secretário.
Por fim, Valquíria Lima fez o resgate das memórias que fazem parte dos 25 anos de trajetória da ASA, sublinhando pessoas e movimentos que foram decisivos para a constituição da rede como ela é hoje. Para a coordenadora nacional da articulação, “não existe mais Semiárido sem a ASA”, o que significa mais responsabilidade de todos e todas frente aos novos desafios.
O X EnconASA acontece desde segunda-feira (18), nas cidades de Piranhas (AL) e Canindé de São Francisco (SE) com o tema “Semiárido vivo: por justiça socioambiental e democracia participativa”. O encontro tem o apoio do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), da Prefeitura Municipal de Piranhas, da Cáritas Francesa e patrocínio da Fundação Banco do Brasil.