Mudanças climáticas são discutidas a partir do conhecimento de agricultores e agricultoras no X EnconASA
Rosa Sampaio | Centro Sabiá/ASA PE
A ASA Pernambuco realizou na manhã da quarta-feira (20), dentro da programação do X EnconASA, a oficina de Mudanças Climáticas e Combate à Desertificação. Foram apresentadas seis experiências de agricultoras, no primeiro bloco, duas da Paraíba e uma de Minas Gerais. Houve também intervenções com perguntas e comentários dos demais participantes.
Vitória Gomes, agricultora assentada de Pedra Lavada, na Paraíba, compartilhou como a chegada das tecnologias sociais, promovidas pela ASA, transformou sua realidade, adotando alternativas sustentáveis, como o plantio e a implementação de um sistema agroflorestal. Vitória emocionou-se ao contar como superou a depressão e hoje frequenta palestras, intercâmbios e incentiva sua comunidade por meio da coletividade e da produção de lambedores, frutas e mudas nativas.
Juciene, agricultora também da Paraíba, apresentou uma maquete que representava sua propriedade e explicou o funcionamento de seu sistema de multiplicação de sementes nativas, essencial para preservar espécies tradicionais.
Luziete e Márcia do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, apresentaram os impactos negativos do monocultivo de eucalipto e da extração de minérios no Semiárido mineiro. Por meio de mapas e dados, elas demonstraram a destruição de veredas e nascentes e relataram os efeitos devastadores para as comunidades quilombolas, como depressão, ansiedade e aumento da violência sexual.
No segundo bloco foram apresentadas experiências das mulheres pernambucanas, também com rodada de interações.
Evanice Pereira trouxe a experiência coletiva da Rede de Mulheres Produtoras do Pajeú e da Associação das Mulheres Produtoras da Comunidade da Gameleira, do município de Itapetim, que hoje tem 27 mulheres associadas. A associação que, a partir do ATER MULHER, projeto do Centro Sabiá, começou a trabalhar com mudas. Depois chegou o projeto de fogão agroecológico, que proporcionou autonomia financeira para as mulheres. Hoje o grupo tem um viveiro de mudas, elas plantam, doam e vendem mudas nativas e, a partir de um novo projeto, vão construir uma estrutura para um Banco de Sementes Comunitário, além de serem guardiãs das suas nascentes.
Josilma Bertino falou da experiência da recuperação de nascente no Sítio Sobrado, ação do projeto Águas da Serra, executado pelo Sabiá, em parceria com a SEMAS e a prefeitura de Jataúba, que promoveu a restauração florestal de quatro nascentes. Josilma reforça a importância da agrofloresta como uma estratégia de mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
Silvanete Lermen trouxe os desafios e conquistas do Sistema Agroflorestal em uma região sequeira, na Serra dos Paus Doias, em Exu. Agricultora e benzedeira, mostrou a transformação de sua propriedade familiar em um espaço produtivo e sustentável. Ela destacou a conexão entre cultura, ancestralidade e produção, relatando os desafios enfrentados por sua comunidade, como depressão e hipertensão.
Cerca de 30 agricultoras e agricultores, de vários estados presentes no EnconASA participaram da oficina, perguntando, contando seus anúncios e denúncias e trocando experiências e vivências. Reafirmando ao final que é no Semiárido que a vida pulsa, é no Semiárido que o povo resiste!
Pontos levantados por agricultoras e agricultores na oficina
- Precisamos anunciar experiências exitosas, de mudanças.
- O impacto da chegada das cisternas como um primeiro passo.
- A importância dos intercâmbios de experiências para o fortalecimento da luta e dos conhecimentos.
- Engajamento de jovens dentro do campo.
- Coletividade dentro da comunidade.
- Resistência da agricultura familiar.
- Resistência dos povos tradicionais.
- Trabalho de conscientização do meio ambiente e agricultura familiar.
- Dificuldade de preservação de áreas, por falta de recursos e incentivos.
- Alternativas criadas a partir da experiência dos próprios agricultores.
- Fortalecimento da Comercialização local.
- A importância da regularização e demarcação dos territórios.
- Empoderamento feminino no campo, a partir da emancipação e domínio da terra.
- Legislação e certificação de sementes crioulas.
- Denúncias dos transgênicos, territórios.
- Ameaça da mineração.
- Aumento de queimadas e desmatamento.
- Privatização das águas.
- Fortalecimento das organizações e redes.
- Eleger pessoas nos processos eleitorais que abraçam essa causa.
- Comunicação como instrumento de estratégia direito popular.