Juventudes partilham desafios e fortalecem rede em defesa dos semiáridos do planeta

Jovens da Argentina, Brasil e El Salvador participaram da plenária autogestionada que abriu a programação do X EnconASA

Kleber Nunes | Asacom

Representações juvenis dos semiáridos da América Latina deram mais um passo rumo ao fortalecimento de uma rede com atuação continental. Nesta segunda-feira (18), cerca de 40 jovens agricultores e agricultoras da Argentina, do Brasil e de El Salvador se reuniram na plenária autogestionada que marcou a abertura da programação do X Encontro Nacional da ASA (EnconASA), em Piranhas (AL).

O EnconASA é o maior evento do Semiárido brasileiro e é onde são discutidas políticas públicas pautadas na proposta de convivência com os territórios. Nesta edição, que tem como tema “Semiárido Vivo: por justiça socioambiental e democracia participativa”, há a participação inédita de representantes do Grande Chaco e do Corredor Seco Centroamericano, além de um agricultor de Burkina Faso, uma das nações da região africana do Sahel.

Embora sejam de países diferentes, os jovens dos semiáridos partilham dos mesmos desafios impostos, sobretudo, pela emergência climática. São filhos e netos de mulheres e homens lembrados pela “lata d’água na cabeça”, que cresceram com mais acesso à água, mas que hoje estão ameaçados por grandes projetos predatórios que avançam sobre os seus territórios sob o véu do “desenvolvimento”.

“O futuro do nosso mundo passa pela agroecologia, foi ela que veio como solução para a minha comunidade permanecer no campo produzindo com qualidade e gerando renda o ano todo, respeitando o meio ambiente. É preciso que os jovens tenham acesso a novas tecnologias para continuar trabalhando de forma agroecológica no território e desenvolvendo outras formas de comercialização”, defendeu o jovem agricultor de Ouricuri (PE), Guilherme Delmondes.

Jovens agricultores e agricultoras da Argentina, Brasil e El Salvador | Foto: Alana Soares

Uma das referências da juventude do Polo da Borborema, na Paraíba, a agricultora Adailma Ezequiel destacou a importância da auto-organização dos jovens na base, mas também a necessidade de avançar para ocupar redes nacionais, como a ASA Brasil. “É preciso buscar essa visibilidade para o trabalho das juventudes. A gente luta pelo acesso à água e à terra, mas para que essas e outras políticas públicas sejam construídas conosco”, afirmou.

Com uma atuação voltada para o empoderamento dos jovens de El Salvador, a agricultor Fernanda Valadares provocou a plenária a refletir sobre o fortalecimento da comercialização das produções agroecológicas. Em seu país, os agricultores ficam com apenas 5% dos ganhos, enquanto que os atravessadores levam 95%. O resultado é que quem produz a comida sem veneno, quase não tem o que comer por falta de uma comercialização justa.

“As organizações ensinam a produzir de maneira agroecológica, mas falta formação em comercialização. Sem uma comercialização justa não há sustentabilidade na agroecologia, e são os mais jovens que podem mudar essa realidade e efetivamente ajudar a superar os efeitos das mudanças climáticas”, disse.

A coordenadora executiva da ASA, Vaneska Bonfim parabenizou os jovens pela organização da plenária e por assumirem as lutas em defesa de seus territórios. Ela também reforçou que a ASA tem na sua origem o reconhecimento dos sujeitos do campo e nesses sujeitos estão as juventudes. “A vinda de vocês é fruto dessa atenção da caminhada da própria ASA”, pontuou.

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